quarta-feira, 22 de maio de 2013

Aventura 35: Rei Arthur Pendragon: Ano 508-509









No início do ano 508,  o exército do Rei Nanteleode retorna da Cornualha, em direção à Logres, após a vitória sobre o Rei Idres. A deserção dos romanos para o norte, tentando evitar a conquista dos Pictus, e as sucessivas batalhas nos últimos anos fez com que o exército real tivesse suas fileiras reduzidas. Os reis Cerdic, Aethelswith e Idres estão mortos ao custo terrível de milhares de vidas. Antes oito mil homens marchavam nas fileiras do novo rei. Agora, com parte da força aguardando em Netley Marsh, elas não somam mais que três mil lanças. A longa coluna liderada pelo Rei Nanteleode, o Príncipe Alain e o Conde Robert, entra no Condado de Salisbury. Ao redor Sir Brastias comanda a guarda real. Sir Bernard, Barão Brain e seus amigos, Sir Accolon, Sir Sagramor e Bigorna, cavalgam juntos. Todos percebem não terem visto uma alma viva nos cinco dias de viagem.

Rei Nanteleode: “Quando nos reunirmos marcharemos o mais rápido possível para Londres. Os exércitos saxões estão tão reduzidos quanto o nosso. Precisamos ser rápidos ou os homens irão começar a desertar. Retirarei Excalibur da pedra e me tornarei Rei da Britânia.”

Corre por entre as fileiras que a visão do rei subjulgado e assustado, durante a batalha de Tintagel, levantou a desconfiança de todos.

NETLEY MARSH: 

A noite cai. Sir Bag, Duque Enrick, Padre Carmelo e Sir Oswalt estão sentados ao redor da fogueira, no centro do acampamento, formado por duas mil lanças. A vila de Netley Marsh, cercada pelo Pântano, nas partes secas que se intercalam com as terras alagadas, é composta por não mais que cinquenta casas; todas elas estão vazias. O cheiro da água negra é forte como o de ovo podre. Os escudeiros dos heróis Bedivere, Deverell e Gawaine, cozinham um gizado de lebre, carregam lenha e servem seus senhores com hidromel. 

Sir Bag: “Deverell, meu pão rapaz! Mas homens, não vimos nem sinal dos moradores! Pra onde vocês acham que foram todos?”

Sir Oswalt: “Com certeza fugiram. A guerra espanta todos.”

Arina: “Vejam, os homens estão cansados. Olhem para o rosto sofrido de cada um. Nos últimos anos só batalhamos. Quase todos nossos amigos estão mortos.” 

Sir Bag: “É a vida que escolhemos, Arina. Mas, o que fariam em um tempo de paz? Eu pescaria, comeria, caçaria e comeria de novo!”

Duque Enrick: “Faz tanto tempo que não me lembro mais. Não sei o que faria.”

Sir Oswalt: “Torneios! Tenho saudade deles. Me lembram tempos bons.

ENCONTRO DAS DUAS FORÇAS: 

Próximo da madrugada, um sopro longo do corno de guerra alerta a chegada de uma tropa. O som de cavalos e de homens em marcha acorda todo o acampamento. Então, milhares de soldados chegam. Todos percebem que a força de Nanteleode diminuiu drasticamente. Sobreviveram menos da metade dos homens que partiram para a Cornualha.

Velhos soldados e companheiros de guerra se encontram. O hidromel e vinho correm pelas fileiras. Alguns se reúnem ao redor de bardos tocando e cantando. Um guerreiro veterano conta como foi a batalha. Seguidoras de exército também estão ali e vendem seus corpos por alguns dinares. Os cinquenta ferreiros reais, trabalham noite a dentro, desembotando as armas usadas na batalha de Tintagel. O jovem Barão Brian aproveita para pedir à um deles, para forjar um elmo fechado para ele. Os novos cavaleiros tem passado a usar esse novo tipo de proteção em batalha. Os cavaleiros veteranos ficam indignados.

Sir Bag: “Essa nova geração... São uns molengas. Na minha época se usava elmo aberto. Não enxergo nada com esses novos. Quanta frescura!”

O Rei Nanteleode se aproxima acompanhado de seu filho, Príncipe Alain. Enquanto isso, seus dez escudeiros reais montam o enorme pavilhão do rei de Escavalon. Todos fazem uma referência.

Príncipe Alain: “É bom ver vocês,  Sir Oswalt e Duque Enrick.” 

Duque Enrick: “O que? Você está vivo meu amigo?”

Príncipe Alain: “Tempos estranhos estes. Os mortos voltando a caminhar sobre a terra, não é?”

O Príncipe e o Duque riem enquanto o Barão Brian Herlews e Sir Bernard Stanpid chegam sorrindo e abraçam Sir Oswald Stanpid e o Duque Enrick Stanpid. Os jovem cavaleiros contam à eles como foi a batalha de Tintagel.

Rei Nanteleode: “Muito bem. Então vá trazê-los, Alain, como tinha lhe pedido.”

Então o príncipe Alain faz uma reverência ao seu pai e se retira.

Rei Nanteleode: “Duque Enrick, como estão nossos soldados?” 

Duque Enrick: “Todos estamos cansados majestade. Não culpo nossos soldados. Está cada vez mais difícil lutar a cada dia.”

Rei Nanteleode: “É verdade, a cada lua que passa perco mais homens! Mesmo tendo grandes vitórias eles querem retornar para as suas plantações, mulheres e filhos. E eu digo o mesmo. Estamos tão perto de conseguir algo extraordinário e ao mesmo tempo tão longe.”

Então o Príncipe Alain chega acompanhado por dois garotos de onze verões. 

Príncipe Alain: “São esses, pai?”

Príncipe Alain: “Sim, esses mesmos! Apresentem-se garotos.” 

Um deles, Breno Stanpid parece tímido, o outro garoto Cormak olha para ele e diz.

Cormak: “Vamos, fale Breno, seu poltrão!”
Os cavaleiros veteranos riem quando lembram que existia um cavaleiro que falava do mesmo jeito: O Barão Algar Herlews.

Breno Stanpid se aproxima do Barão Brian Herlews com todo cuidado e cortesia. Sir Oswald Stanpid, o Marshall de Logres e pai do garoto, observa orgulhoso. 

Breno Stanpid: “Vim lhe servir, Barão Brian. O Senhor me viu crescer e sabe que farei de tudo para ser um escudeiro bom e honrado.”

Barão Brian: “Seja bem vindo meu bom rapaz.”

Cormak Herlews olha para o seu Senhor, Sir Bernard, e o toca no ombro, sem o mínimo respeito ou cortesia.

Cormak Herlews: “Oi tio. Tudo bem?”

Sir Bernard: “O que é isso? Você tem que melhorar sua cortesia rapaz. Mas gostei de você; é dos meus rapaz. Mas, me diga quem é você?”

Cormak Herlews: “Sou filho de Algar Herlews, Senhor. Minha mãe era escrava na vila que vivia na Noruega e ela foi salva pelo Barão Algar Herlews. Naquela mesma noite eles dormiram. Minha mãe fugiu grávida num navio para Irlanda. Eu nasci lá. Desde pequeno, tive que aprender a lutar para defender o meu povo e atacar as praias inimigas. Ano passado vim com os mercenários Irlandeses para ajudar os guerreiros com suas armas, escudos, cotas, cozinhar e cuidar dos cavalos. Nós viemos para lutar ao lado do Rei de Escavalon: Nanteleode. Mas quando cheguei descobri que meu pai, Algar Herlews, tinha morrido nove anos antes, em batalha. Um dia o Rei Nanteleode passou por perto de mim e eu falei com ele e desde então tudo tem sido diferente.

Barão Brian: “Bernard, quero te apresentar alguém. Esse garoto é seu irmão bastardo.”

Sir Bernard: “Não posso acreditar. Que os deuses te protejam. Te recebo com honra irmão.”

Cormak: “Tá bom.”

Sir Bag: “Tá bom? Isso é resposta? Esse Irlandeszinho é tosco, puxou ao Algar mesmo.”

AS BRUMAS: 

Com o avanço da madrugada tudo vai ficando em silêncio. Os nobres se refugiam em seus pavilhões de campanha. A temperatura cai bastante. As brumas, emanadas pelo pântano, começam a tomar toda a área da vila e do grande acampamento. Uma fina garoa cai durante a noite. Não suficiente para apagar as fogueiras. 

O Duque Enrick acorda com o som seco de algo caindo lá fora. Ele se senta na cama de campanha no interior do pavilhão. Depois parece que mais alguma coisa bate na tenda e o som de dezenas daquelas coisas continua, a cair lá fora no chão de barro. O Duque Enrick vai até lá. Cobrindo o chão escuro, existem centenas de bolas esféricas entre os corredores dos pavilhões. Meia dúzia delas surgem arremessadas por entre as brumas e elas, ao se chocarem contra o solo, rolam até os seus pés. O Duque Enrick se assusta quando se depara com os crânios de homens, mulheres e crianças... As cabeças de milhares de aldeões britânicos sacrificados à Wotan. O Duque Enrick tenta gritar mais fica em choque observando as faces das cabeças contorcidas de dor.

Os outros cavaleiros acordam com o barulho estranho. Sir Oswalt sai da tenda no momento que todos começam a escutar gritos e sons de batalha vindo de todos os lados do acampamento. Os cornos de guerra soam por todo o lugar. Então o som pesado de tambores gigantescos chegam até ali. Mas os cavaleiros sabem que não são os tambores inimigos soando para a batalha. É o som de gigantes se aproximando. Dali eles podem ouvir um homem gritando.

Soldado: “Estamos cercados! Não! Tenham piedade! Não! Aaaaaaaa!”

O Rei Nanteleode sai afobado de seu enorme pavilhão, acompanhado pelo seu filho, Alain. Os cavalos, com o som dos passos dos gigantes e a visão do fogo, quebram o cercado e correm em disparada se perdendo nas brumas. O Duque Enrick e Sir Oswalt não acham seus parentes em meio ao caos.

Nanteleode: “Defendam o acampamento! Rápido, reúnam-se! Vamos! Brastias, venha comigo! Escudeiros minha armadura!” 

Enquanto mais três bolas de fogo sobem ao céu, eles vêem um corpo, atirado há cinco metros de altura, surgir das brumas com os membros quebrados e a cabeça mordida. Ele cai, na escuridão, fazendo um barulho na água cheia de lodo. O escudeiro Gawaine de Sir Oswalt e Deverell do Duque Enrick trabalham rápido enquanto colocam as cotas de malha, luvas de aço, perneiras de couro, botas e elmos em seus Senhores.

A BATALHA  DE NETLEY MARSH: 

Primeira hora de Combate: 

O acampamento se enche de saxões, vindos das Brumas, por todos os lados. Os cavaleiros lutam desorganizados. Muitos estão sem armaduras e são assassinados. Por todos os lados se vêem chamas se alastrando pelas tendas e pavilhões. Os ginetes saxões, armados com escudos, lanças e montados à cavalo, são a tropa de elite dos bárbaros. Os Britânicos estão à pé. Os cavalos tem olhares ferozes, espumam. São animais maltratados desde potro para atacarem pessoas desmontadas. 

Saxão: “Provem do próprio veneno adoradores de Gamo! Quero a cabeça do Rei, do Príncipe, do Duque e do Marshall. Seremos ricos hoje, homens! Por Wotan!” 

Os Cavalos chegam tentando morder Duque Enrick. O herói puxa o animal pelo estribo derrubando o saxão, enquanto o seu martelo de guerra explode o rosto de seu inimigo em miolos, sangue e pedaços de ossos. O outro saxão golpeia com a sua espada acertando a sua armadura negra, o desequilibrando. O cavalo passa pelo Duque, que consegue ficar de pé, desvia do golpe de machado e de um coice que o animal tenta lhe acertar. Então Enrick o ataca esmigalhando a pata do cavalo saxão que cai arremessando seu inimigo na lama. Sir Enrick pula nas costas do saxão o matando a golpes secos de martelo.

Enquanto isso Sir Oswalt duela ferozmente com outros dois cavaleiros saxões que o circula. Um machado golpeia de baixo para cima quase o estripando. Os cavalos tentam morder Sir Oswalt. A sua cota de malha impede que ele seja morto. O duelo continua até que o cavaleiro celta é atacado pelo cavalo saxão que tenta o atingir com as patas da frente. Ele rola para o lado e golpeia furando as costelas do saxão que cai e fica pendurado pelo estribo enquanto o cavalo foge em disparada. O outro saxão o ataca com uma espada e atinge Oswalt, abrindo um corte superficial em seu pescoço. O cavalo fareja o cheiro de sangue e tenta mordê-lo. Sir Oswalt enterra a sua espada, até a metade do pescoço do animal que desaba. O saxão fica preso embaixo de sua montaria que agoniza. Duque Enrick corre até ali e cala o saxão com um golpe de martelo nas têmporas do inimigo. 

O Rei Nanteleode e o Príncipe lutam um de costas para o outro. Quatro cavaleiros saxões os cercam tentando achar uma brecha. Quando o saxão usa o cavalo erguendo suas patas o Rei se joga de frente com a espada levantada. Todas as entranhas do animal caem enquanto  o animal dá coices descontrolados de dor. Brastias, que já matou três saxões a golpes de mangual, puxa Nanteleode debaixo do animal, que cai. Sir Alain e três escudeiros reais puxam pela lateral de outro animal, derrubando-o junto com o seu cavaleiro. Nanteleode olha o seu inimigo cair com uma faca lançada por Deverell. O outro saxão, preso embaixo da montaria, tem a cabeça dividida por sua espada. Por fim, o Príncipe Alan corta a lança de um homem e com o pedaço enterra no coração do cavalo inimigo, que morde seu braço esquerdo deixando os músculos a mostra. Enquanto o outro, atira o javalim, errando o alvo. Então Alain pega a lança, com o braço bom e acerta em cheio o meio da barriga do saxão. O cavalo dispara atravessando o fogo com o cadáver pendurado em cima da sela.

Príncipe Alain: “Maldito cavalo!” 

Enquanto o Príncipe vomita de dor soam dois toques no chifre de guerra.

Saxões: “Recuar, recuar! Rápido!”

Então um assobio crescente é ouvido e bolas de fogo sobem para o céu, inundando as brumas de laranja. Umas delas vem direto para a área da cavalaria. Sir Oswalt e Duque Enrick se jogam embaixo de uma carroça enquanto tudo vira um inferno mergulhado em chamas. Todos os pavilhões ardem. Há corpos pegando fogo por todos os lados. Por vezes no escuro, atrás das tendas, se vêem cavalos correndo desesperados. Mais da metade dos Cavaleiros estão mortos. Sir Brastias, Rei Nanteleode, Príncipe Alain saltam em uma vala cavada, para proteger o centro do acampamento, e escapam da morte certa. A maioria dos escudeiros reais morrem instantaneamente quando atingidos com a torrente de bafo de dragão, o fogo vivo bárbaro. Um escudeiro sobrevivente corre com o corpo em chamas. Ele se abraça em uma árvore passando o seu corpo tomado pela substância tentando tirá-la, mas a cada vez que ele tenta extinguir as chamas, o tronco do carvalho se incendeia e parte de sua carne vai descolando dos ossos, até que sua caveira fica caída de joelhos com a testa na árvore que é tomada até a copa pelo fogo. Nesse momento todos escutam o som dos chifres de guerra e o ruído da batalha retorna. 

Próximo dali centenas de cachorros latem. São rosnados e gritos de pessoas desesperadas morrendo. O mais impressionante é o choro dos feridos como um grande coral soturno. Enquanto isso os urros e o som dos gigantes estremecem o chão. Eles parecem se aproximar cada vez mais. Então, duzentos homens chegam correndo, surgindo das brumas. São os arqueiros de Avalon. Alguns chegam mancando, outros feridos, com o rosto cheio de cinzas. Um tem um dos olhos enfaixados por um pedaço de túnica de um companheiro. Os liderando: Lady Marion de Tishea. 

Lady Marion: “A Senhora de Avalon me convocou para liderar os seus arqueiros! Tentamos contra atacar! Quase todos que estavam ao norte do acampamento estão mortos, esmagados pela aquelas coisas. São três gigantes! Eles são enormes. Precisamos sair daqui e rápido!”

Segunda hora de Combate:

Conde Robert, Duque Bernard, Lady Ellen e o Barão Brian voltam da floresta com os seus escudeiros Breno e Cormak, depois de caçarem algo para comer. Eles chegam no acampamento, carregando várias codornas para a janta. 

Conde Robert: “Não falei que de madrugada era melhor pra caçar! Não temos concorrência! Agora vê se não reclamam mais: Ai, porque eu sou nórdico e só sei pescar por isso não consigo acertar uma porra de uma codorna que nem consegue voar... ” 

Então, a alma dos rapazes congela! Eles avistam chamas por entre as brumas, escutam o som de trebuchets, vêem pessoas correndo e escutam o som da batalha. Saindo das brumas, a infantaria chega até onde eles estão. Uns mil homens, todos sujos de lama negra com os olhos cheios de medo: Homens do Rei Nanteleode.

Irlandês: “Pelo Cristo! Tudo foi destruído. Quase não se vê uma alma viva mais para frente, mestres. Os gigantes! São três deles e estão pisoteando, mordendo e arremessando tudo que vêem pela frente. Tentamos enfrentá-los mas ninguém conseguiu se aproximar deles! Aonde estão os arqueiros? “

Então, ele olha onde está pisando

Irlandês: “Deus tenha piedade de nós!”

Existem dezenas de corpos ali. Um tapete de cadáveres. Não dá para se ver o chão coberto deles. O cheiro de sangue é muito forte. São escudeiros e seus lordes, mutilados, que morreram abraçados aos seus senhores, enquanto tentavam vestir as suas armaduras. O som de cachorros fica cada vez mais próximos.  

Robert: “Se acalmem todos! Permaneçam juntos em formação! Ao meu comando!”

Então, através das brumas, eles surgem negros como a noite, de todos os lados, em contraste com o fogo que arrasa as tendas. Os animais saltam troncos e pisam nos cadáveres em meio as brumas. São os Rottweilers criados pelos saxões e deixados sem comer dias antes das batalhas para enfraquecer a linha inimiga. Eles vem com as bocas cheias de baba e sangue e começam a correr na direção da formação comandada pelo Conde Robert. 

A luta com os cães é letal. O Barão Brian decapita um animal enquanto outro salta em seu pescoço. Mas o jovem cavaleiro o afasta com o escudo e o silencia com uma estocada nas costas. O escudeiro Cormak tem seu braço mordido mas ele levanta o animal e bate a cabeça do grande cachorro negro no chão, deixando o rottweiller em convulsões. O outro ele afasta com o seu escudo e depois golpeia o cão, na nuca, o matando. Sir Bernard duela com um cão, maior e mais feroz, mesmo sem um dos olhos e com a cabeça toda retalhada por sua espada, o animal consegue derrubá-lo. Bernard consegue se soltar das correias de seu escudo enquanto desvia de várias mordidas no rosto até que com as duas mãos rasga a mandíbula do cachorro forçando-a para baixo. Logo um outro cão morde-o por entre as pernas. A sua armadura o protege e o cavaleiro desce com força a sua espada o silenciando. O escudeiro Breno é mordido na perna, mas o garoto consegue se livrar do animal com um golpe certeiro no meio do crânio. O outro cão o ataca e o escudeiro coloca o cabo de seu martelo de guerra na horizontal fazendo o animal  mordê-lo. Então o garoto bate com o cachorro no chão matando-o.

O Conde Robert ataca com a sua mão esquerda girando a sua espada por cima da cabeça decapitando um cachorro. O outro morde sua perna defeituosa. O animal quebra os dentes na couraça de aço que ele usa para se proteger. Então o rapaz, com o cão grudado em sua coxa, joga sua espada, pega a sua adaga e enfia no queixo do cachorro que fica mais feroz e não morre. O cachorro tenta morder e a cada dentada faz um talho em seu pescoço. Até que no último momento o Conde enfia sua adaga no céu da boca do bicho, atingindo o seu cérebro, fazendo o estremecer e o matando finalmente.

A infantaria tentou lutar com os cachorros mas estão em choque e os animais os comem vivos. Depois de asfixiarem suas presas com os dentes, os cachorros devoram os homens começando pelas partes moles, como os órgãos genitais e depois abrindo as barrigas dos cadáveres para comerem o seu fígado. A maioria dos animais se entretém fazendo isso. Toda a infantaria está morta ou fugiu dali pela água, atravessando o fogo por entre as tendas.

Então Sir Bag e Arina surgindo surgem de trás de uma tenda em chamas, seguidos por uns cem soldados. O som de combate pode ser ouvido ao longe.

Sir Bag: “Vocês estão bem? Viram seus parentes ou o Rei?”

Barão Brian: “Não vimos ninguém!”

Arina: “Droga! Nós matamos um bando de saxões então vimos alguns de nossos homens correndo para o escuro, fora do acampamento; escutamos eles clamando pelas suas vidas e depois sendo mortos. Está tudo cercado. Espere... Estão sentindo? Os gigantes estão muito próximos.”

Terceira hora de Combate: 

Tudo estremecer a cada passo dos gigantes. O som de água e lodo sendo pisado por toneladas de peso vai se aproximando. Saindo por entre as Brumas surgem três deles. O cheiro de podridão, enquanto eles urram e esmagam o que tem na frente é nauseante. Eles atiram árvores, cavalos e tudo que pode ser lançado por suas mãos enormes. A maioria dos soldados que aparecem, em pequenos grupos, correm para longe dali em pânico, sumindo entre as tendas em chamas. 

Os arqueiros falam: “Nós vamos morrer! Nós vamos morrer! É o fim!”

As feras surgem nas brumas com o incêndio iluminando os seus olhos amarelados. O primeiro gigante olha para a infantaria, fecha os dois punhos, e golpeia forte. Metade dela é esmagada e o restante foge correndo para todos os lados. Enquanto isso o segundo gigante se prepara para chutar uma pedra maior que um cavalo e o terceiro pega uma carroça para atirá-la. 

Uma voz saxônica e o trote de um cavalo, atrás das criaturas, pode ser ouvido. A voz é de Scur, Rei dos Gigantes, irmão saxão bastardo de Sir Enrick. Scur os cutuca com uma vara e assopra um corno de guerra feito de ouro. 

Scur: “Matem eles, vamos!”

Sir Brastias e o Príncipe Alain seguram os braços do Rei Nanteleode o impedindo de lutar. Eles arrastam o Rei para longe do que está acontecendo. Enquanto as criaturas se aproximam, Lady Marion move rapidamente seus arqueiros para o flanco esquerdo. A guerreira olha para as chamas e observa a direção do vento. Ela compensa o tiro virando sua tropa de encontro ao vento e dispara. Seus arqueiros fazem o mesmo. Uma saraivada de flechas acerta o gigante da esquerda que se arca e se ajoelha, tonto de dor, soltando um urro que faz umas das árvores próximas cair. Enquanto isso, Sir Oswalt, o Marshall de Salisbury corre em direção a criatura para impedí-la de atacar os arqueiros. O gigante abaixa a sua cabeça enquanto sangra e olha para o herói que se aproxima. Sem ter tempo para pensar, Oswalt enfia a espada bem no meio do olho da criatura, que vaza litros de água amarela, do ferimento. Ela estremece e se levanta com as mãos nos olhos, tenta caminhar mas a espada entrou fundo e atingiu algo vital. O gigante cai de joelhos e depois despenca no lodo levantando lama para todos os lados. 

O Duque Enrick pega o seu arco e mira no peito de seu irmão bastardo, que cavalga logo atrás das criaturas. A flecha alça vôo e vai se alojar no lado esquerdo do peito, derrubando-o de seu cavalo. Scur cai em cima de seu corno de ouro, que usava para pastorear as criaturas, que amassa com um som desafinado. Um dos gigantes coloca a mão na cabeça enlouquecido pelo som e corre para longe dali. 

O gigante que sobrou está incontrolável. Ele tenta enxergar tudo que se move na lama do pântano. Ele urra de ódio iluminado pelo acampamento em chamas. Marion comanda os seus duzentos arqueiros, se arriscando, mas tentando um tiro mais próximo. Ela grita  palavras de comando e as flechas voam direto na cara da criatura. Um tiro certeiro sem desperdiçar uma flecha. O gigante se debate e tropeça se estremecendo por inteiro. Um cavaleiro ainda tenta golpeá-la mas a pele é dura como o aço e nada transpassa o seu couro. Então, o gigante para e seus músculos parecem relaxar. A criatura fecha os olhos e começa a cair. Sir Oswalt e o Duque Enrick saltam no último segundo quando o gigante morto se estatela na água negra do pântano, levantando barro que cai por alguns segundos como se fosse chuva.

Começa a amanhecer e o sol nasce inundando de vermelho o pântano negro e dispersando as brumas. Ao redor a destruição é total. Todos os pavilhões estão queimados. Milhares de corpos de infantes cavaleiros e cavalos se perdem de vista para todos os lados. Não se vê o chão e tem que se caminhar por cima dos corpos. Os gigantes mortos afundam lentamente no barro negro enquanto centenas de corvos voam em círculos no alto.

De todas as partes do acampamento os sobreviventes, daquela noite infernal, se reúnem. Não somam mil lanças. Scur, o irmão bastardo do Duque Enrick está caído ali, estrebuchando, com uma flecha fincada em seu coração. 

Quarta hora de Combate: 

Scur: “Bem que ele me avisou. O Rei gosta de você, bastardo (tosse sangue). Felizmente você se aliou a Nanteleode e Ælle quer tudo o que o Celta conquistou. Todo o acampamento está cercado. Somos oito mil lanças. Aescwine, Smouth, Cynric, Aesc, todos comandados por nosso pai. Hoje ele se transformará no High King da Britânia. A vida inteira me preparei para isso e você me tirou tudo... Me dê uma espada irmão, rápido.”

O Duque Enrick cospe nele enquanto pisa em sua cabeça afundando-a na lama o afogando até a morte. Nesse momento Sir Bernard, sua irmã Ellen, o Barão Brian e seus escudeiros Cormak e Breno  chegam onde estão o Duque Enrick e Sir Oswalt. 

Sir Bernard: “Estamos vivos pai, mas foi por pouco.”

Eles olham ao redor e pelo menos setecentos homens do Rei Nanteleode se reúnem ali no centro vindo de todos os lados. O medo faz suas entranhas se remexerem. Então, o som de bumbos e o os chifres de guerra chegam de todos os lados mais uma vez. O som de homens marchando e gritando o nome do Rei Ælle é ensurdecedor. Nanteleode parece assustado.

Rei Nanteleode: “Escutem todos! Acalmem-se! Há 12 anos começamos essa empreitada, Britânicos. Não posso deixar que escape pelas nossas mãos.”

Ele tem os olhos perdidos como se nunca tivesse passado por sua cabeça que aquilo poderia ocorrer. Então sua mão se aperta em punho e sua voz fica alta.

Rei Nanteleode: “Se estivermos destinados a morrer pela Britânia que assim seja! Se vivermos, maior será para cada um a parte que nos cobrirá de honra. Por favor, não desejem mais homens em nossas fileiras. Pelos Deuses! Não tenho cobiça pelo ouro e  não me importo que outros usem minhas roupas. Essas coisas exteriores quase não tem importância em meus desejos. Mas se for pecado buscar a glória! Eu sou o mais pecador das almas existentes. Não anseies por um homem a mais! Quem não estiver pronto para morrer pode se retirar e tentar a sorte sozinho. Aquele que não tiver coragem para lutar, entrego-lhe os meus anéis para que possa partir com algum dinheiro. Não desejaríamos morrer em companhia de um homem que tivesse medo de acabar como nosso irmão de armas. Mas, quem sobreviver a este dia e chegar à velhice, anualmente, convidará os amigos para beber e comer, então arregaçará as mangas e mostrará as suas cicatrizes. Então nossa história será ensinada pelo bom homem ao filho e, desde este dia até o fim do mundo todos conhecerão a lenda do nosso exército, do nosso pequeno exército que nos deu esperança de um mundo melhor. Do nosso bando de irmãos; porque, aquele que hoje verter o sangue comigo será meu irmão; por mais vil que seja, esta jornada nos enobrecerá e aqueles que não estão conosco se sentirão amaldiçoados pelo fato de não estarem em nossas fileiras! Quem está comigo?” 

Todos gritam juntos, elevando as suas armas acima da cabeça, apoiando o rei. Então eles vêem os saxões vindo por todos os lados. As espadas, elmos, machados, lançadas e martelos inimigos parecem estandartes da morte. Seus rostos, com os dentes amarelados cerrados de ódio, parecem adivinhar que os Britânicos são presas fáceis. Eles sabem que vão trucidá-los. A distância pode se ver os reis saxões por entre as chamas, montados, sem dar para distinguir quem são. No meio do caos, na proporção de quatro saxões para um celta, a luta se inicia. 

Sir Oswalt luta selvagemente, afastando seus inimigos. Um deles é decapitado pelo Marshall. O segundo acerta o cavaleiro arrebentando sua cota e abrindo um corte em seu peito. Oswalt tenta se defender do terceiro saxão mas tem a clavícula quebrada pelo golpe. Sua espada é lançada longe. Quando o quarto inimigo o ataca ele se defende com o escudo, aparando o golpe de machado e usa a bossa de ferro, no centro do escudo, para derrubá-lo e estourar seus miolos. 

O Duque Enrick se livra de seus quatro inimigos os golpeando com o martelo de guerra. Quebrando maxilares, rachando crânios e costelas. Ele procura seus filhos Ellen e Bernard e não os vêem. Seus afilhado, o Barão Brian, também não é visto. O Duque só consegue enxergar seu irmão desarmado, lutando apenas com o escudo. Ele corre para tentar ajudá-lo. Os três saxões se aproximam de Oswalt lentamente. Ele respira rápido, cansado e com dor. O primeiro golpeia. Ele apara com o escudo e afasta o saxão. O segundo tenta rachar o seu crânio mas Oswalt consegue derrubá-lo e matá-lo, com golpes no peito de seu pesado escudo de tília. Mas, ao mesmo tempo, o último saxão o flanqueia e o transpassa pelas costas com a espada, que sai por seu estômago. O Duque Enrick grita de desespero.

Na mente de Sir Oswalt a dor lancinante o invade. Ele não consegue respirar e cai. As botas dos saxões estão à nível de seus olhos assim como o lodo do pântano. Tudo fica escuro. Ele abre os seus olhos uma, duas vezes. Na terceira não consegue mais. O cavaleiro sente muito sono e frio. A dor começa a diminuir, como se o seu corpo tivesse mergulhado em uma banheira de água quente. Os últimos sons de aço, de dor e gritos vão ficando ao longe. A sua frente, como num sonho, um homem de cabelos longos e barba lhe estende as mãos; é o Cristo e ele está vivo. O amor que Oswalt sente é tamanho que não sente vontade de retornar aquele mundo cheio de dor e injustiça. Então ele se vê de pé em uma colina e começa caminhar. Quando chega do outro lado ele vê a entrada do Haras Epona, onde nasceu e foi criado. Um lugar que tinha sido destruído pelos saxões. É noite, e Oswalt nunca viu tantas estrelas no firmamento. Ali estão os cavalos correndo na área verdejante. O seleiro cheio de feno. Os cachorros vem correndo para recebê-lo. A casa de Gondrick Stanpid, seu pai, está nova como Oswalt recordava. O cheiro da comida de sua mãe enche o ar e as lanternas iluminam a varanda. Lá de fora ele escuta a risada de seu pai e a voz de sua mãe cantando. O cristo sorri e o cavaleiro sente que tudo foi perdoado e está bem.

 Cristo: “Pode entrar Oswalt! Eles estão em festa. Estão te esperando.”

Então a porta se abre e o brilho da luz, que vem lá de dentro, enche o rosto de                        Oswalt de alegria e ele entra. O filho voltou para sua casa. 

De volta ao campo de batalha Sir Bag totalmente dominado pelo discurso do Rei luta como um animal. Ele bate a cabeça de um homem no outro. No terceiro ele golpeia o saxão com a sua maça. O último cai quando Bag, longe dele, atira seu elmo acertando o o inimigo na testa, o derrubando com o crânio aberto. Nanteleode luta como se estivesse possuído. Ele arranca a espada do inimigo. Outro vem pelas costas e ele gira cortando a sua cabeça fora. O terceiro o acerta mas a couraça de ferro e ouro absorve o impacto, quebrando a espada do inimigo. Então ele arranca o braço do homem com um corte vertical. O quarto corre em pânico. Robert luta concentrado. Muda a espada para a mão direita e bloqueia um golpe. Depois no último momento joga a arma para a outra mão. O saxão está com a guarda aberta do lado errado e é traspassado pela lâmina. Outro homem acerta seu joelho com o martelo. O Conde cai. Dois vão para cima dele com machados e martelos. Quando eles golpeiam Robert, usando a luva de aço, coloca a espada na transversal, mutilando seus inimigos que gritam, sem os braços, rolando no chão.

Quinta hora de Combate: 

Os saxões não param de chegar ali. Eles vêem os corpos dos inimigos se acumulando. Os bárbaros mal podem acreditar. Ao fundo eles podem ver as silhuetas dos Reis saxões em cima de seus cavalos, cercados pelas suas guardas pessoais. O combate continua forte mas a proporção de inimigos caiu de dois para um. A maioria dos homens estão beirando a exaustão lutando há cinco horas naquele chão de barro negro fétido. Os Britânicos batalham com selvageria. Já se foram cinco horas de combate e todos estão feridos. As cotas rasgadas. O Príncipe Dalan tem um grande corte no peito. Sir Bag luta como um louco com uma lança enfiada, atravessando sua coxa. O escudeiro Bedivere é pego pela garganta enquanto um saxão bate com o garoto em uma árvore. Mas, o bonito rapaz, faz a lâmina sair de sua mão de prata e enfia na barriga do inimigo que o solta. Somente o Rei Nanteleode, sem ferimentos aparentes, gira e mata como um deus da guerra. Se movimenta rápido para a direita e depois para esquerda se esquivando das lâminas inimigas. Mata mais um saxão cortando-o na altura da coxa. O Rei dança a canção da espada.

Sexta hora de Combate:

São oito da manhã. É início da sexta hora de combate. A loucura da batalha cobre os homens de lama, sangue e suor. As armas já não cortam e o cabo das armas está pesado. O ataque dos Britânicos foi tão agressivo que eles sentem os saxões recuarem deixando seus mortos e feridos. No meio da barulheira e confusão todos vêem o Rei Nanteleode gesticulando. Ao redor do rei existe uma dúzia de saxões mortos. 

Rei Nanteleode: “Venham! Quebramos o cerco! Em frente!”

Então todos os sobreviventes começam a correr deixando os saxões para trás. Enquanto isso o inimigo lança uma saraivada de lanças matando muitos soldados do Rei Nanteleode. 

Rei Nanteleode: “Como disse Britânicos! Eu serei o último a deixar o campo de batalha!”

Agora seguindo na Vanguarda da infantaria saxônica os Reis bárbaros Aescwine, Smouth, Cynric e Aesc se aproximam. Eles estão ricamente adornados com elmos, cotas, anéis e armas que custam uma fortuna; verdadeiros senhores da guerra. Enquanto todos fogem e começam a subir uma colina barrenta os Britânicos vêem o Rei Nanteleode parar entre os dois exércitos. Sir Brastias agarra o Príncipe Alain, que tenta voltar para proteger o seu pai, e o arrasta em fuga. Não se vê Brian, nem Bernard e nem seus escudeiros misturados à multidão. A filha de Sir Enrick, Ellen, corre ao lado de sua mãe, a guerreira Lady Marion. Nanteleode sabe que não pode fraquejar como fez em Tintagel. 

Rei Nanteleode: “Um verdadeiro homem não tem medo! Um verdadeiro Rei protege o seu povo. Um verdadeiro Rei morre por seu país se for preciso!” 

Quando Nanteleode se vira para correr, para a colina atrás de seu exército, Smouth retira a lança Gungnir que estava presa em suas costas. Ele olha para Nanteleode e sorri. Então Smouth arremessa a arma sagrada. Quando atinge o Rei ele cai em um dos joelhos segurando-a enquanto verte sangue de sua boca. 

Cynric: “Não o matem, ele é meu! Sigam a infantaria inimiga!”

Os milhares de homens da infantaria saxônica passam pelo rei prostrado. Ao longe, o que era o seu exército, some atrás das colinas. O Rei Nanteleode sorri segurando com as duas mãos a lança sagrada traspassando o seu peito. Ele treme... Aescwine, Smouth, Cynric e Aesc o observam com o rosto fechado. 

Cynric se aproxima de Nanteleode e apeia do seu cavalo retirando um alforje de sua cintura.

Cynric “Guardei isso para você, Majestade.”

Aesc: “Cynric, O Rei Ælle disse pra capturá-lo.”

Cynric: “Ælle só enviou seus homens e não está em campo de batalha como nós. Perdemos muitos homens lutando por ele. Enquanto isso ele que cumpra o combinado; pilhe todos feudos de leste a oeste.”

Um saxão traz o alforje para Cynric. Então ele abre a rolha e despeja o conteúdo no rei. O cheiro de Bafo de Dragão se espalha pelo ar.

Cynric: “Por meu pai, Rei Cerdic de Wessex. Eu sou o arauto do seu fim, Rei Nanteleode de Escavalion. Thunor, me ouça, esse é o meu tributo à você!”

Smouth se aproxima e retira a sua lança do peito de Nanteleode. Cynric pega um galho em chamas de uma árvore próxima e atira aos pés de Nanteleode. O Rei grita enquanto seu corpo é tomado pelo fogo. Caído, ele rola em desespero urrando de dor. Sua couraça impede as chamas, o que torna a morte mais agonizante e demorada. Sua capa desaparece, evapora consumida pelo calor. Ele tenta arrancar a armadura mas não consegue. As chamas vão queimando o seu rosto e de repente o seu cabelo explode em uma bola de fogo fazendo a sua pele borbulhar e seu crânio virar uma bola de fogo. Nesta altura todo o seu corpo está envolvido pelas chamas e os gritos saem mudos. Ele se debate, mais um pouco, até que suas pernas, de tanto calor, se separam do corpo.  Nanteleode se reduz à uma caveira negra com as costelas brancas saindo da carne negra com os metais da armadura e espadas derretidos. Então o Rei Aesc de Kent grita: “Matem todos!”

Sétima hora de Combate: 

A sétima hora de combate se inicia com a morte do Grande Rei Nanteleode de Escavalion e o exército Saxão em carga, atrás dos sobreviventes Britânicos. Os cavaleiros bárbaros tomam a dianteira enquanto a infantaria saxônica chega nos últimos homens de Nanteleode em fuga. Então, depois da colina, se estende o pântano de Netley. Aquelas centenas de sobreviventes fundeiam a água negra, lentamente, com o nível em suas cinturas. Os saxão montados entram ali aos berros: “Vamos matá-los Britânicos! Vamos estripá-los!”

Cynric: “Desçam dos cavalos e façam uma linha, cerquem e abatam um por um! Depois que acabarem, retornem ao acampamento. Smouth, o comando é seu. Os outros Reis... Vamos, temos que planejar a tomada dos territórios!”

Então os primeiros Britânicos começam a serem abatidos, enquanto uma longa meia lua formada por saxões começa a se fechar, em cima do que era o exército de Nanteleode. Ali o solo é barrento, mas já não se afunda e o nível da água desce, facilitando o trabalho dos saxões. Então a linha de bárbaros começa a se aproximar até o momento que não há mais o que fazer; só resta lutar. Os bárbaros vão golpeando tentando cansar a fila que se agrupa, tentando se proteger, e vão os guiando para morte como carneiros. A proporção de inimigos sobe de oito para um. A coluna em fuga está em um corredor sendo abatida. O Barão Brian, Sir Bernard, seus escudeiros Cormak, Breno e Lady Marion lutam como loucos tentando escapar da morte certa. Mas as armas dos inimigos vão causando ferimentos em todos. Os escudos começam a partir e o cansaço faz com que as mortes comecem a aumentar. Não ha mais esperança...

Mas então, os heróis, avistam uma série de pequenas colunas de fumaça surgindo no oeste. Ela se aproximam rapidamente levantando barro e água. O som de algo cortando o ar é ouvido e os estandarte de cabeça de cavalo em chamas caem próximo aos saxões que se viram assustados. Os cinquenta Sine Nomines, os cavaleiros negros da morte à cavalo, entram em carga abrindo uma brecha a golpes de machados. Os saxões congelam de medo. Braços, dedos e cabeças são arrancados. Eles são rápidos, os cavalos espumam e mordem arrancado rostos e nacos do ombro do inimigo. O líder, com a máscara feita  com o rosto de uma caveira, passa por entre os heróis e agarra Sir Enrick pelo gorjal de sua armadura negra, assim como o Barão Brian, Sir Bernard e seus escudeiro Cormak e Breno. Lady Mario também é levada mas Ellen, sua filha, fica para trás. A guerreira então se livra do Cavaleiro Sine Nomine e cai próximo a coluna Britânica. Os Cavaleiros Negros seguem em frente atropelando os soldados de Nanteleode e depois os saxões. Eles somem tão rápidos quanto apareceram. 

Oitava hora de Combate: 

A maioria dos soldados Britânicos em fuga são cercados e sacrificados. Alguns conseguem fugir, mais a maioria vai caindo morta. Marion vai até a sua filha e a protege lutando bravamente. Mas aos poucos vai ficando ferida: São muitos saxões. Ela salta, lança adagas, usa sua corda de estrangular. A guerreira corta cabeças e mãos com a sua espada. Até que o cansaço vai lhe dominando e uma dor é sentida por entre as suas costelas. Marion cai vertendo sangue. Ela precisa salvar a sua filha mas sem forças desaba de costas no chão. Marion continua ouvindo os sons da batalha ao redor. Mas tudo está escuro. Em algum lugar de sua mente vem lembranças de uma vida. Ela brincando nos jardins de Tishea. A primeira vez que ganhou o seu arco. A viagem para a Terra dos Francos. Os druidas, Avalon, treinamentos que a deixavam tão cansada que pensava em desistir. Mas aí viu o povo sofrer e entendeu porque exigiam tanto dela. Lembrou de rostos lendários de reis caídos, momentos heróicos e gloriosos e de seu amado marido: Enrick Stanpid. Então a paz lhe invade... Ela vê a Britânia do alto, as montanhas e tudo se inunda em uma luz linda e pura e uma ponte de espadas surge à sua frente. Mas, então, a guerreira sente alguém pegar em sua mão. 

 Ellen: “Mãe! Acorde! Mãe! Eu não vou deixar você ir embora.”

Ellen está deitada sobe o peito de sua mãe. Os saxões erguem as espadas. Naquele tempo de uma batida de um coração, Ellen olha para a água do pântano à sua direita. Uns pássaros caminham pescando, com as suas pernas longas acima da água do pântano. Ela vê uma mulher entre eles. Ela abre os braços e a menina escuta a voz dentro de sua cabeça: “Sou Heilim, meu pai, o Barão Algar me enviou. Ele disse que estariam aqui. É a hora de vocês deixarem o mundo dos homens e vir comigo aos das fadas! Não tenham medo!” 

Enquanto isso o aço desce em direção a mãe e filha. Ellen se lembra da frase de Nínive, a Senhora de Avalon, quando foi convocada à sua presença no ultimo Beltane; palavras as quais as duas não tinham entendido naquele momento: “Viviane nos deixou e fugiu com Galahad, precisarei de vocês. O amor de mãe e filha para substituí-la. Como ela ama Galahad, sua mãe ama você Ellen. Tudo é energia. Até mesmo as coisas inanimadas como as pedras e a água.” 

“A água!”, Ellen pensa no segundo que as lâminas frias tocam a sua pele de menina. Ellen fecha os olhos e abraça Marion repetindo: Verde, marrom, verde, marrom, verde marrom, como foram ensinadas nos auspícios da Deusa. As duas gritam juntas: “Troca peles!” E quando os corpos são atingidos pelo aço, mãe e filha não estão mais ali. As duas se unem para sempre. Duas almas se fundindo com a água de Netley Marsh para serem o que Viviane foi um dia: A DAMA DO LAGO. 

Nona hora de Combate:

Próximo ao meio dia a batalha acaba. Poucos sobreviventes conseguem escapar para o campo. Na beira do Pântano de Netley os corpos dos homens em fuga são comidos pelos corvos. Para trás, o acampamento está em cinzas e os entulhos de árvores, rochas e pedaços humanos estão espalhados por todas as partes. O tapete com milhares de corpos começam a serem cobertos pela alta do rio que começa a inundar tudo com as suas águas negras engolindo o cenário de destruição e os cadáveres dos gigantes. 

Sine Nomine:

O bando dos Cavaleiros Negros adentram a mata densa e largam o jovem Barão Brian, Sir Bernard e seus escudeiros ali. Os cavalos velozes e os Sine Nomini, com as vestes negras em farrapos, parecem flutuar com o vento. As árvores passam pelos olhos de Sir Enrick como vultos. Os cavalos espumam até que chegam em uma clareira. O líder dos Sine Nomine solta o Duque Enrick. Todos eles descem e fazem um círculo e colocam as mãos para trás. O líder, com o rosto de caveira preso por uma correia de couro, se aproxima. Enrick percebe que os cavaleiros não são sobrenaturais como ele pensava.

O líder retira a metade do crânio que usava de máscara e o deixa cair na relva. Por baixo só fica o capuz negro. Ele abaixa a sua cabeça o retirando. Os seus cabelos longos loiros e cinzentos e as tranças descem por baixo dos ombros. Ele puxa a barba cheia e encara o Duque nos olhos. Todos os outros Cavaleiros Negros retiram seus capuzes. Quem o olha ali no centro é um Rei. Seu inimigo e pai: o Rei saxão Ælle. Ao redor os irmãos bastardos saxões do Duque Enrick, o observam.

Rei Ælle: “Estou aqui, filho! Nosso povo desde o início dos tempos conquistou terras em nome de Wotan. Assim sobrevivemos através dos séculos... Na Britânia não seria diferente. Chegou a hora de eu me elevar acima dos outros Reis e mostrar quem governa a Britânia. Quem é o mais forte. Estou há muito tempo nessa terra e chegou a hora de tomá-la por inteiro.” 

Duque Enrick: “Pensa que pode me manipular?”

Rei Ælle: “Precisava de você vivo, filho! Quem enfraqueceu meu inimigo? Quem fez eles lutarem entre si? E fez com que os outros Reis saxões não conseguissem conquistar a Britânia? Foi você! Agora lhe estendo a mão Enrick, filho de Ælle de Sussex! Você está vendo? Olhe ao seu redor! São seu sangue. (todos eles fazem uma reverência) Junte-se aos seus irmãos e teremos a Britânia em nossas mãos. Os celtas me seguiriam, por você estar comigo, e teria todo ouro que nunca sonhou. Não existe nenhuma força nessa ilha que poderá me impedir. O que atacou vocês só foi a metade de meu exército. O restante me aguarda para que comecemos a unificar meu reino. Nesse momento sou o Bretwalda dessa ilha e ninguém me tirará isso. O que me diz Filho de Horsa?” 

A armadura negra parece sufocar o Duque Enrick e sussurrar em seus ouvidos. Ela parece pulsar de ódio, ao mesmo tempo de repulsa e orgulho. 

Duque Enrick: “Não aceitarei Majestade! Embora tenha salvado minha vida várias vezes, não poderei abandonar o meu povo e enfrentá-lo em batalha.”  

Rei Ælle : “Então junte-se aos Celtas, Filho de Horsa. Como falei uma vez no palácio de Duque Ulfius: Nunca matei um filho a sangue frio e não será dessa vez. Uma vez você rompeu o nosso acordo e eu fiz o mesmo. Isso nos torna quites, não é?” 

Então os cavaleiros retiram as suas vestes negras e as queimam e ficam somente com as cotas de malha. O rosto de crânio é quebrado com um machado pelo próprio Rei de Sussex. Em seguida todos sobem em seus cavalos.

Rei Ælle : “Adeus! Enrick Stanpid dos Celtas. Que os Deuses lhe cubram de glória! Daqui em diante me torno somente seu inimigo. Que tenha uma boa vida até a morte o levar. Se nos encontrarmos em campo de batalha não me poupe, pois eu não o pouparei!” 

Quinqueroi Forest:

No dia seguinte a garoa faz a temperatura baixar dentro da floresta Quinqueroi.  Bernard, Brian, Deverell, Gawaine, Bedivere, Breno e Cormak saem de dentro de um buraco na terra, que se formou embaixo de um grande tronco de salgueiro que caiu.  Eles passaram a noite ali e não sabem ao certo onde estão dentro da floresta.

Deverell: “Venham! Os saxões parecem ter desistido de procurar por fugitivos. Se Sir Brastias, Arina, o Príncipe Alan e Sir Bag não tivessem aberto caminho para nos salvar, estaríamos mortos uma hora dessas. Bigorna ficou para trás. Acho que perdemos nosso amigo.”

Todos eles ficam em silêncio com os olhos perdidos na mata.

Sir Bernard: “Vamos achar o rio! Posso ouví-lo daqui.”

Enquanto o grupo caminha por entre as árvores e as folhagens, sentindo o cheiro de terra e de mato molhado, eles sentem fome e sede. Caminhando, até o fim da tarde, eles espionam por entre as folhagens. Ali existe uma construção de madeira com uma placa pendente em formato de escudo. Nela está escrito Taverna da Truta Prateada. Cinco cavalos estão amarrados à entrada. Ao lado da Taverna corre um rio. Parecem vir vozes dali.

Sir Bernard: “Precisamos nos aproximar. Quem vai?”

Breno: “Eu vou, Senhor!”

O garoto se move, escondido por entre as folhagens, e se esconde próximo a taverna, atrás de uma árvore. Ele vê duas sepulturas ao lado da construção. A terra negra parece recém remexida. Vozes podem ser ouvida dali. Elas falam no idioma saxão. 

Eldred: “Está aqui o hidromel, Smouth. Me ajude a colocar o leitão no fogo. Os taverneiros estão enterrados e a filha bem acorrentada no porão. Nem sinal dos fugitivos. Vamos comer e sair. Os Reis saxões querem os nobres Britânicos e não podemos voltar de mãos vazias!”

Smouth: “Os Celtas devem estar bem longe daqui uma hora dessas. Cadê Swefred e Avery?”

Eldred: “Estão comendo a celta lá embaixo. E esse mercador Irlandês que passou hoje à tarde? O que ele falou sobre Londres, Smouth?”

Smouth: “Parece que a cidade caiu! Os outros Reis saxões ficaram muito tempo longe de lá lutando contra Nanteleode. Mas todas as estradas, vilas e cidades serão atacadas por nós. Só quem tiver sorte de chegar em Londres terá uma chance de sobreviver. O mercador disse que voltaria pela manhã com peles e prata dos celtas. Então deixei que fosse. Quando voltar tomamos o barco dele, as mercadorias e o estriparemos.”

O escudeiro Breno retorna e conta tudo para os seus Senhores. Os irmãos Barão Brian e Cormak descobrem que quem matou seu pai está ali dentro daquela taverna: Smouth. Nesse momento, liderados por Brian eles se aproximam usando a noite. Um dos Saxões sai de dentro da taverna alcoolizado. Ele vai até a sepultura ao lado da casa e mija em cima dela. Então Brian retira sua espada se esgueira pelas costas do saxão e atravessa o homem com a sua espada, tapando a sua boca. Brian, Cormak, Deverell e Gawaine entram na taverna. Os outros ficam nas duas janelas para impedir uma possível fuga.

Quando eles entram Smouth os olha espantados.

Smouth: “Swefred e Avery, subam! Temos visitas!”

Smouth chuta a cadeira em Brian que cai com o impacto. Cormak, tomado de ódio, golpeia Smouth e fere o saxão, arrancando alguns dedos. Brian tenta atacar de novo mas o experiente guerreiro se defende atirando a mesa no jovem cavaleiro, ferindo-o. Outros dois bárbaros sobem do porão mas um é morto imediatamente por Deverell. Cormak salta na mesa ao lado e salta derrubando Smouth que tenta sacar a sua lança mas o seu braço é cortado desde o ombro pelo escudeiro. Smouth cai sangrando no chão para Brian pisar em seu rosto várias vezes matando-o. O último saxão pede clemência a Cormak se ajoelhando. O saxão é decapitado imediatamente pelo garoto irlandês. Brian vai até a lança sagrada Gungnir e a toma em suas mãos.

Brian: “Irmão! Essa lança era do nosso pai. Agora é sua!”

Cormak: “Obrigado irmão! Farei bom uso dela. Que Smouth apodreça debaixo da terra.”

Bernard, Bedivere e Breno entram ali. Breno desce as escadas e liberta a garota Lavena, que estava presa no porão. Ela chora, marcada de hematomas. Eles deixam alguns dinares com a adolescente que parte dali durante a noite. Os jovens cavaleiros e escudeiros dormem ali e se alternam em turnos de vigília. Quando acordam pela manhã eles vêem pela janela, que fica para o lado do rio, um barco impulsionado por velas brancas surgindo pela curva do rio. Deve ter uns dez remos e está lotado de homens. Um deles surge na popa do barco, um padre coberto pelo seu manto negro e capuz. Eles o reconhecem imediatamente: É o padre Pertoines, filho bastardo do finado rei Uther. 

Padre Pertoines: “Finalmente achei-os. Graças a deus! Myriddin Wilt disse que os encontraríamos aqui.” 

Barão Brian: “Quem?”

O barco atraca.

Padre Pertoines: “Venham, subam a bordo. Um mercador irlandês que esteve em Oxford vendendo peles de lontra, disse tê-los visto com o exército de Nanteleode e que se algo acontecesse com o Rei de Escavalion era para ir atrás de vocês e que estariam próximo à margem do rio. Nós deixamos esse mercador, Myriddin Wilt, perto de Londres há três dias. Subimos o rio em busca de vocês desde então. Precisamos ir para Londres agora mesmo e rápido.”

Londres, um ano antes: 

O dia amanheceu chuvoso na cidade de Londres. Lá embaixo nos túneis escuros é hora de se mover para um lugar mais seco. Os Leprechauns, Os adaga sagradas, A Mão de Deus e os homens do Arco de Cernnunos se movem rápido com as suas tochas subindo uma escada ao porão de uma adega romana abandonada. Na frente seu líder, o homem que uniu novamente as gangues, com cabelos brancos, mancando e com a metade do seu rosto, destruído pela peste, coberto por uma máscara, aguarda calmamente: Sir Dalan Herlews.  

Isaac: “Senhor, elas disseram que iriam nos encontrar aqui!”

Então um alçapão se abre no teto e cinco mulheres entram ali. Elas não tem nada em comum entre si. Duas lavadeiras, duas prostitua e uma escrava. As “Mariposas da Morte”

Prostituta: “Olá queridos! Temos informações pra vocês, mas antes queremos o nosso pagamento...” 

Sir Dalan: “Pague à elas Isaac.”

Escrava: “Obrigado. O Comandante Olaf vai jantar hoje à noite com um homem do Rei Cerdic. É a primeira vez em três meses que sai depois que vocês mataram o seu filho mais velho, o comandante da muralha. Será hoje à noite na estalagem do Grifo Dourado. Eles estão morrendo de medo dos Corvos da Vingança e farão a reunião de portas fechadas.” 

Lavadeira: “Tenham cuidado, vocês já mataram muitos deles. Estão em alerta. Com certeza esse será substituído por um comandante pior. Afinal quatro deles já foram mortos por vocês. Estão colocando guerreiros cada vez mais inexperientes no lugar deles.”

Ao cair da noite Sir Dalan ordena que seus homens e mulheres se posicionem dentro da taverna. No segundo andar, besteiros dos adagas sagradas seguem disfarçados de clientes, no balcão que dá para baixo da taverna. Lá fora as mariposas sagradas e alguns homens das gangues fingem estar de passagem por ali. Dalan senta apoiado com as costas na parede da estalagem, disfarçado de mendigo.

Guarda: “Deixe Olaf passar idiota. Vá para outro lugar vagabundo.”

Sir Dalan se afasta mas percebe que junto com Olaf, um outro homem, usando um manto metade vermelho e metade branco, entra na taverna. Eles são escoltados por vinte e sete guerreiros saxões. Dezoito deles ficam ali fora. Entram com eles oito homens. O sargento saxão tranca a porta da taverna. Dalan, sem ter como entrar, dá a volta na estalagem e escala até o segundo andar. O Cavaleiro entra por um dos quartos que está vazio e sai no balcão. Silenciosamente ele salta no lustre de velas em formato de roda de cavalo para pousar em cima da mesa onde Olaf está sentado. Rapidamente os besteiros atiram matando a maioria dos guardas e os que sobraram são eliminados pelas mariposas da morte, que bebiam nas mesas ao redor. O outro homem, que está com Olaf, se atira embaixo de alguns barris enquanto Sir Dalan saca as suas duas espadas e decapita o saxão, que nem sabe o que o matou. Lá fora, rápidos e letais o resto da guarda é eliminada pelos homens de Dalan.

Então o homem de capuz sai de baixo dos barris.

Sir Geoffrey: “Dalan, é você?” 

Sir Dalan: “O que você faz aqui, amigo?”

Sir Geoffrey: “Escute, eu vim até aqui pegar o pagamento de Olaf.” (ele pega o saco de lingotes de ouro do cadáver) para matar Cerdic, meu tio, em nome do Rei Aethelswith. Eles irão lutar até o último Rei saxão pelo poder da ilha. Ainda preciso dar cabo de meu primo Cynric. Quando Londres cair, voltarei com o trono de Wessex em minhas mãos e então me aliarei a Logres. Já que tenho uma aliança com os Cavaleiros da Cruz do Martelo. Agora vão, enquanto a guarda da cidade logo descobrirá o que aconteceu. Mas antes, me esfaqueie com a sua adaga. Espere! Com cuidado.”

Sir Dalan: “Desculpe!” 

Sir Dalan esfaqueia a perna de seu amigo. Quando Sir Geoffrey abre a porta da taverna, sangrando, os saxões entram ali e encontram os corpos de seus homens caídos. Nesse momento Dalan já está longe dali

Londres: tempo atual

O barco cruza o Tâmisa. Logo, no início da tarde, pode se ver as grande muralhas de Londres e suas dezenas de portões. Os estandartes saxões ainda tremulam ali. 

Padre Pertoines: “Droga! Londres não parece ter caído como o mercador nos falou. Rápido! Vistam esses xales.”

Pertoines cobre suas cicatrizes de runas na pele com uma túnica de couro negra. Logo o barco contorna a grande muralha. A seção da muralha derrubada pelo fogo, no último cerco, ainda está em entulhos.

Centenas de saxões sentinelas circulam a muralha. O Rio está cheio e o porto movimentado com vários barcos cheios de mercadorias e escravos celtas. Depois de esperar algum tempo o barco consegue atracar. Um sargento saxão, acompanhado por outros seis anglos entram no barco para revistar as mercadorias, com as suas peles de cadáveres no rosto.

Anglo: “Irlandeses, falam saxão? O que os trazem a Londinium?” 

Sir Bernard: “Paz e tranquilidade. Assim como negócios.”

Saxão: “Podem desembarcar mas o barco terá que sair para dar espaço no porto para os outros. Vamos, não temos o dia inteiro.” 

Pertoine: “Os guardas parecem não nos ter reconhecidos. Vamos nos encontrar com Myriddin Wilt. Ele disse para o esperarmos na frente da Basílica.” 

Breno: “O que é uma basílica Padre?”

Pertoine: “A Basílica era um templo ao deus Mitra na época dos romanos. Depois virou a sede cristã do poder da cidade. Agora os saxões a usam para criar gado.”

Os saxões andam patrulhando as ruas. Elas estão tomadas por romanos, pictus, irlandeses, celtas, francos e dinamarqueses. Os mercados estão lotados de escravos celtas. As ruas apertadas estão apinhadas de gente. As estalagens lotadas e a cidade fluindo libras. As construções estão decadentes e desgastadas por causa do último cerco. Os saxões não sabem como corsertá-las. 

Sir Dalan: Dias atuais

Sir Dalan e a sua gangue estão nos túneis escondidos e sem esperança. A notícia de que Nanteleode está morto chegou essa manhã. Então dois “Mãos de Deus” chegam até Dalan, trazendo um velho pelo braço. A cabeça do homem pende para baixo e seu rosto está escondido pelas sombras.

Trajano: “O achamos perambulando pelos túneis, Senhor. Ele disse que é um mercador e que se chama Myriddin Wilt.”

Myriddin Wilt: “Olá, Sir Dalan Herlews, gostaria de conversar. A vida parece estar bem difícil em Londres; tudo mudou muito. Vim fazer negócios aqui na cidade e fiz uma compra de algo que talvez lhe interesse. Eu tenho cem barris de bafo de dragão.” 

Então, ele dá um passo à frente e as tochas o iluminam. O homem ergue as suas costas e parece que o peso da idade o deixa imediatamente. O rosto do Arquidruida Merlim surge diante de Sir Dalan.

Merlim: “E eles são todos seus Cavaleiro! Preciso que você aja imediatamente e os acenda. Gere o caos! Acenda a chama do novo tempo como um Herlews que é!”

Abadia:

Já se passaram muitas horas depois que o Barão Brian, Sir Bernard, Breno, Cormak, Bedivere, Gawaine, Deverell e o Padre Pertoine chegaram. Os saxões passam várias vezes desconfiados. Cai a noite e o movimento nas ruas diminuem. As tavernas estão lotadas.

Saxão: “Vocês o que estão fazendo aí parados? Vão para uma estalagem ou vão dormir no barco.” 

Nesse momento eles vêem o fogo surgindo em diversos pontos da cidade. As pessoas começam a gritar e a saírem das estalagens inundando as ruas. Então alguém toca o ombro de Brian com um cajado. Ele vê um velho barbudo. Mesmo com o caos ao redor ele fala tranquilamente.

Merlim: “Como vão rapazes? Sou Merlim, acho que já devem ter ouvido bastante sobre mim, não é? (Ele parece não se importar com as fortes explosões) Vejo que já são cavaleiros (Acontece mais uma explosão próxima). Meus parabéns! (batendo no ombro de Brian) Opa, cuidado!”

 Saxão: “São celtas e eles estão com Merlim! Matem-os!”

Merlim: “Venham Cavaleiros! Preciso da ajuda de vocês! Pertoines tem que conseguir entrar na abadia. Para as escadas abram caminho!”

Eles sobem enquanto os quatro guardas com os escudos redondos tentam bloquear a passagem. Os dois da frente estão em uma posição mais alta e os outros dois dos lados. Merlim está protegido no meio dos jovens heróis, e se esconde por entre os escudos, enquanto abaixa a cabeça de Pertoines o impedindo de levar um golpe de espada. Eles lutam enquanto a guarda da cidade surge vindo pela retaguarda. Eles precisam se livrar logo dos inimigos e atacam os calcanhares, já que estão abaixo deles. Os jovens matam os saxões abrindo caminho antes que os outros homens, da milícia da cidade, os alcancem.

Então eles entram na Abadia, o teto é uma abóbada com um sol pintado refinadamente. Por cima, toscamente, foi desenhada uma cruz com o cristo. No centro o círculo onde faziam os sacrifícios em nome de Mitra e ao redor arquibancadas de mármore. Os saxões transformaram o lugar em um curral. Os bois andam livremente ali enquanto esvaziam as suas tripas.

Merlim: “Bloqueiem a entrada! Pertoine, faça o que tenha que fazer.”

Os saxões estão em uma pequena parede de escudos com quatro guerreiros, enquanto mais de uma centena deles, na retaguarda, tentam entrar a força no templo. 

Merlim: “Eles estão se reunindo ao pé da escada. Logo vão subir. Precisamos de algum tempo! Aguentem firme! Agora Padre.” 

Pertoines pega o grande livro que levava em sua bolsa de couro de foca: A Chave de Salomão. Enquanto os heróis lutam em linha, já que na porta só passam quatro pessoas. Os rapazes vão cansando. A cada saxão morto outro o substitui. Bernard, Brian, Deverell e Cormak são feridos, enquanto ocupam a primeira fila, tentando repelir o inimigo. Os outros rapazes tentam os ajudar. Principalmente Breno, que ataca na segunda fila tentando acertar os elmos dos inimigos que tentam se proteger com seus escudos.

Enquanto isso Pertoine arrasta um saxão morto para o centro do círculo. Ele vai escrevendo com um punhal números e runas no corpo do homem. Depois, no centro do templo, ele corta as unhas e cabelos do cadáver, colocando em cada ponta de uma estrela de cinco pontas, que ele desenha com sangue no chão. Então ele acende os montinhos de cabelos e unha com uma pederneira e começa a entoar palavras em sânscristo. Os Cavaleiros e seus escudeiros, exaustos, gritam para que o Padre acabe rápido o que está fazendo.

Então, por fim, ele puxa um boi até o círculo, enquanto continua com as palavras. O ambiente parece ter ficado mais escuro. Os saxões recuam assustados até metade da escada. Pertoines pega o elmo do saxão e coloca em cima da cota de ferro que o cadáver vestia. 

Pertoine: “Oh Deus da forja, do fogo, Weyland! Atravesse o véu negro! Venha! Eu tenho algo para você. Tenho sangue, almas e aço! Toneladas deles! Venha, AGORA!” 

Então o ferro vai ficando incandescente e se incendeia ateando fogo no cadáver. As chamas começam a ficar mais quentes e altas até que se transformam em uma forma humanóide com um martelo em suas mãos. As chamas viram um cavalo com a forma de um homem montado. Na cabeça do animal fantástico, existe uma chama mais clara, como a marca que Hefesto, o cavalo de batalha que um dia pertenceu ao Duque Enrick, sacrificado em honra ao deus ferreiro, possuía.

Pertoine: “Weyland, grande ferreiro, deus da forja de tempos imemoriais! Eu lhe ofereço todo metal e sangue com que você puder se alimentar.”

Então a chama, formando a figura de um homem montado em um cavalo, corre em direção a porta. Merlim grita.

Merlim: “Tirem as proteções de metal, agora!”

O deus ferreiro montando em seu cavalo feito de chamas passa através deles. Os heróis sentem o calor mas quem conseguiu se livrar de suas proteções e armas de ferro não sentem nada. O único que não consegue tirar uma de suas manoplas de aço é Sir Bernard. A luva articulada fica incandescente. O jovem cavaleiro grita mas consegue tirar a proteção que se incendeia queimando a sua mão. Ao mesmo tempo as mãos e rosto de Pertoine se incendeiam. Ele cai se debatendo. 

Merlim: “O custo da magia.” 

Ao mesmo tempo tudo que é de metal, do centro da cidade até há alguns quilômetros dali, se incendeia. A gritaria começa pela cidade inteira. As construções começam a pegar fogo. Os saxões cobertos de ouro, aço e cota viram bolas de chamas pela cidade inteira. Logo tudo começa a desabar em um caos de fogo e fumaça. 

O cheiro de carne queimada enche o ar. Os navios afundam e o Tâmisa se enche de cadáveres. Muitos escravos se libertam, mesmo queimados, conseguem correr com os grilhões derretidos em seus pulsos. Os mais ricos da cidade estão com os corpos carbonizados pelas suas jóias de ouro e prata. Os portões, em chamas, caem. Todos os onze. Os poucos saxões que escapam estão apavorados, há dezenas de léguas dali. Os objetos sagrados se derreteram incendiando as igrejas. Metade da Catedral de São Paulo desaba. A Londres dos saxões não existe mais e se transforma em um caos de fogo e morte.

Nesse momento a Basílica, onde estão os heróis, começa a desabar. Os blocos de mármore da abóbada e das paredes começam a cair.  Merlim aponta para a porta. Eles se atiram para fora. Mas Sir Brain vai sendo atingido por blocos de todos os tamanhos, quebrando seu braço, dedos e costelas. O Padre Pertoine morre soterrado pelo pesado teto romano.

Apesar de estar em escombros e em chamas, Londres está nas mãos dos Celtas mais uma vez. A maioria das pessoas que estão ali são humildes e não sofreram queimaduras. Dos mais vis e avarentos só sobraram as carcaças carbonizadas. 

Londres Celta:

A cidade está inteira cheirando a carne queimada. A água presa do Tâmisa virou um logradouro de moscas, baratas e ratazanas. Muita gente chega na cidade, a maioria tinha fugido no cerco em 506. Todos estão imundos e magros. Alguns se ajoelham e fazem uma oração. Os escudeiros ficam chocados. Deverell dá água de seu bornal à elas. Uma mulher tem uma criança de colo, morta há alguns dias de fome, e não quer deixar o bebê. O escudeiro cai de joelhos e chora.

Deverell: “Não acredito que alguém possa sofrer isso! Coitados! 

Catedral de São Paulo:

Metade da Catedral de São Paulo ruiu. O piso está cheio de fuligem com corpos de saxões carbonizados ainda fumegantes. O altar, onde existia um grande crucifixo de prata, está derretido. A porta  que leva ao jardim de Uther está queimada. Excalibur está intocada na pedra, da maneira que o Rei Uther a deixou da última vez. Na frente da espada sagrada, de costas, ajoelhado e rezando, está Hanz de Duplain, o bispo da cidade, que tinha entregado Londres aos saxões e cobrava para que as pessoas tentassem tirar a Excalibur da pedra. Suas lágrimas vertem em cima da guarda da espada Excalibur. Mas então eles notam que não são lágrimas que caem de seu rosto; são gotas de sangue.

Hanz de Duplain (Voz trêmula): “Eu não tive escolha! A cidade estava morta. Todos nós estaríamos mortos. Os Anglos estiveram aqui quando começou o ataque, achando que eu os tinha traído.”

Quando ele vira o seu rosto está sem face. A caveira monstruosa vermelha e sem nariz olha para os heróis. Sangue verte para sua túnica branca. Eles vêem seus dentes expostos e os olhos cegos se movendo nas órbitas. Aos poucos, ao redor do jardim de Uther cercado por barras de ferro, o povo começa a se reunir. Eles começam a sacudir as barras e começam a insultá-lo: “Filho de uma cadela!”, “Traidor”, “Assassino!” 

Então uma das barras de ferro que cercam o jardim cai. As pessoas se acotovelam ao redor; milhares delas cospem e atiram lama preta do chão, no padre. Hanz de Duplain leva um chute que o derruba e atraídos pelo cheiro, dezenas de cães famintos e abandonados que perambulam pelas ruas se aproximam. Eles correm lambendo a sua face enquanto ele grita desesperado: “Jesus! Jesus! Maria, mãe de Deus!” 

O povo chocado dá um passo para trás enquanto as últimas barras são destruídas. Então possuídos pelo cheiro de sangue os animais começam a devorar o rosto do Bispo por entre gritos de pavor e desespero. Até que só resta um cadáver com o crânio branco exposto, sendo lambido pelos vira latas agora, bem alimentados.

Rua da Carne:

Na rua da carne pode se ver os corpos de moradores misturados aos de saxões. A libertação de Londres teve um preço alto. Os homens das gangues de Londres saem do subterrâneo. Entre eles Sir Dalan Herlews. Ele vê os jovens e lágrimas correm de seus olhos quando lembra tudo o que passou; a perda de seu filho no cerco da cidade e a vida nos túneis por quase dois anos. Sua perna fraqueja e ele tem que ser levantado.

Sir Dalan: “Acabou rapazes! Acabou! O custo foi alto. Mas, Londres é nossa.”

Torre Branca:

Gawaine: “Venham! A torre branca caiu inteira e a tumba de Brutos parece estar aberta!”

A torre branca foi reduzida à escombros e cinzas. Corpos carbonizados de saxões estão espalhados por todos os lados. No que era o salão principal, ao lado da tumba de brutos, existe um trono de madeira parcialmente queimado, esculpido com o rosto de Odim e seus corvos no topo. A entrada da tumba está intocada. Provavelmente os saxões não tiveram culhões de mexerem ali. Ali dentro uma rachadura se direciona do chão até a tumba de Brutos. 

No interior da tumba, cheia de teias de aranha, existe um esqueleto de um homem com mais de dois metros de altura. Ele está usando uma armadura de couro. Em sua cabeça uma coroa do mesmo material. Mas em seus pulsos, dois grandes braceletes, com o Deus Cernunnos gravado na esquerda e na direita a Deusa, intocados pelo fogo brilham como novos. O escudeiro se aproxima e reconhece um dos doze tesouros da Britânia. O bracelete de Brutos. Ele retira cuidadosamente e os heróis partem dali.

Chegadas: 10 dias depois.

Londres se transforma em um grande acampamento enquanto o povo retira os entulhos e escombros. Os cadáveres são enterrados em valas comuns ao norte da cidade. Todos os dias chegam refugiados, enquanto chegam notícias de que a Aliança Saxônica saqueia e rouba por todos os lugares. As pessoas dividem o pouco que tem mas a fome assola à todos.

Os sobreviventes da Batalha de Netley Marsh começam a chegar com a cabeça enfaixada, mutilados, queimados ou inválidos. Sir Bag, Arina, Padre Carmelo e Sir Enrick estão entre eles. Eles chegam a pé. Bag está sem uma das pernas apoiado pela guerreira Dinamarquesa e por Padre Carmelo. Logo atrás, na grande fila que chega, na única cidade segura da britânia, entra o novo Rei de Escavalion: Alain. Os jovens cavaleiros, Brian, Bernard seus escudeiros e amigos estão acampados na frente da Catedral de São Paulo.

Sir Bag: “Venham aqui me dar “oi” seus merda! Virei um ótimo poste para amarrarem o cavalo. Gawaine vai me arrumar um pão e um caneco de hidromel. Pois é Enrick...” 

Ele se senta em um dos troncos colocados ao redor da fogueira. 

Sir Bag: “Acabou... Me aposentei! Estou com quarenta verões, sem perna. Tá na hora de cultivar essa barriga. Acho que você deveria fazer o mesmo. Está vendo o que esses garotos fizeram? Acho que vamos passar bem nosso legado para frente.” 

Duque Enrick: “É Bag, só sobrou nós dois. Acho que daqui para frente foi ficar mais na política de nosso reino. Fizemos muito. Agora chegou a vez deles. Realmente a perda de meu irmão, Oswalt, foi um choque para mim. Chegou a hora de parar. Mas ele morreu bem; como um herói, matador de gigantes. Agora, ninguém teve coragem de contar à Breno o que aconteceu com o seu pai. Deixe por um tempo o garoto achar que ele está desaparecido.”

Então vindo cansado e ferido. Desnutrido de viver dias se escondendo nas matas chega no acampamento o Duque Derfel de Lindsey.

Duque Derfel: “Como vão senhores? Meu pai, Corneus, foi morto pobre coitado e meu irmão, Lucan está desaparecido. Todos os Sargentos sobreviventes, de todos os nobres, foram jogados num buraco no chão. Eram mais de trezentos e foram enterrados vivos. Que deus me ajude. Os gritos e os gemidos abafados foram terríveis.”

Rei Alain: “Concordo Derfel, também não foi fácil chegarmos. A aliança saxônica colocou patrulhas em todas as estradas. Muitos sobreviventes morreram tentando chegar em Londres. Capturei um saxão falando que Merlim tinha voltado e matado todos os bárbaros com fogo. Os saxões não ousariam vir para cá por enquanto. A cidade virou o último bastião dos celtas.”

Sir Bag: “Não soube nada de Tishea. Mas chegar lá é bem difícil. O passo do bode negro, é muito estreito e defensável. Os saxões não vão se arriscar a perder mais homens até o próximo verão.”

Ao amanhecer do dia seguinte o som de vários cavalos acordam o lado oeste da cidade. 

O Rei Leodegrance de Cameliard chega montado, liderando uma comitiva, escoltada por quinhentos soldados. Atrás dele o Rei Centurião Barant de Apres de Malahaut, em seu corcel branco de guerra. Seguido por Rei Lot, o mais poderoso Rei do Norte; pai de Gawain, escudeiro do finado Sir Oswalt; Duque Scan de Gloucester, Conde Sanam de Bedegraine, Conde Gilbert de Hertford, Barão Macsen de Lonazep, Rei Uriens de Carduel, marido de Morgana, o Duque Derfel de Lindsey e o Pretor Flavius de Exeter. 

O Rei Leodegrance vem cumprimentá-los enquanto os outros procuram um local para os seus escudeiros montarem seus pavilhões.

Rei Leodegrance: “Bom dia, Senhores! (olha ao redor) Meu Deus, não sobrou quase nada em pé... Viagem tensa com os saxões nos acompanhado à distância por muitas léguas.  Sinto muito pela perda de seu pai, Rei Alain. Lhe desejo um reinado de coragem como foi o de Nanteleode. Pois bem, como podem ver reuni os últimos lordes da Britânia. Somos só nós e viemos aqui para instaurar o Supremo Colégio. Precisamos  escolhermos um rei entre nós ou será o nosso fim.” 

O Supremo Colégio:

Pela manhã os brasões estão dispostos em círculo, e os troncos cortados para os nobres poderem se sentar. Além dos lordes, estão presentes Merlim e o Padre Carmelo. O Rei Leodegrance, um homem de cabelos e barbas curtos e grisalhos, com olhos finos, usando uma coroa dourada e roupa negra com a capa amarela. No peito o brasão do leão dourado em fundo preto, como de costume, abre a sessão. O Duque Enrick representando Silchester e o Barão Brian o reino de Logres estão presentes. Os escudeiros recolhem as armas que são levadas em uma carroça para um local seguro.

 Ao redor milhares de pessoas se acotovelam tentando escutar o que está acontecendo.

Merlim: “Permitam-me Senhores! Que os tesouros da Britânia sejam exibidos à todos. Excalibur já é conhecida por todos vocês. Mas outros foram achados.” 

Todos os Lordes e o povo ficam boquiabertos quando todos eles são exibidos pelos escudeiros. Até mesmo os cristãos estão em choque quando uma tiara, um broche, uma ferradura, um bracelete, um elmo, um martelo, uma capa, uma lança, um chifre de guerra e um anel são exibidos.

Merlim: “Para que lembrem de quem fomos um dia e quem queremos ser! Podem levá-los à um lugar seguro para serem protegidos.”

Rei Leodegrance: “Senhores! Estamos aqui reunidos, os representantes dos reinos sobreviventes dessa ilha, para concluir um acordo solene destinado a elegermos um Rei Supremo. As nossas divergências foram sanadas pelo grande Rei Nanteleode nos campos de batalha e, por isso, não merecem no momento qualquer tipo de discussão. Mas o fato é que só temos doze Lordes. Precisávamos de mais quatro deles para tornar válido o Collegium. Teremos que fazê-lo de qualquer maneira, mesmo que daqui alguns anos resulte em problemas para um novo Rei eleito. Mas espero que a nossa decisão resulte num mundo melhor, nascido do sangue e sacrifício de todos. Como diria um pensador da antiguidade: Um mundo baseado na dignidade do Homem, na tolerância e na justiça. 

Rei Lot : “Eu, como Rei além da muralha sobe todos os territórios da Caledônia, digo que me candidato. Tenho tradição guerreira. Os pictus são os melhores guerreiros dessa ilha. Meu filho, Gawain, servia Sir Oswalt e vem lutando ao lado de vocês celtas. Um dos meus melhores guerreiros, Sir Bruce, caiu em batalha defendendo essa cidade ao lado do Duque Enrick.”

Rei Centurião Malahaut: “Se o Rei Lot se candidata e também coloco o meu nome na disputa! O Rei Lot sempre ficou protegido pelas muralhas da Caledônia e nunca se envolveu em nossos problemas. Tem nos atacado constantemente já que o “grande” Nanteleode dizimou minhas forças os usando para serem sacrificados para derrotar Cerdic. Se Lot não tivesse caído como um abutre em meu território meus homens não tinham abandonado a causa de seu pai Rei Alain.”

Rei Alain de Escavalion: “Meu pai e eu construímos as bases da Britânia. Se não fosse suas conquistas nunca estaríamos sentados aqui. O Rei Uther governou somente Logres. Meu pai, um Rei conquistador, dominou meia ilha e uniu à todos como Britânicos. Tudo ruiu por traição, medo de alguns e má vontade de outros. Sou herdeiro de Nanteleode e tenho direito à sucessão do trono.”

Duque Enrick: “Senhores! Estamos todos cansados de guerrear. Precisamos votar e estará feito.”

Barão Brian: “Exatamente! Eu só participarei da votação.”

Conde Sanam de Bedegraine: As perdas foram pesadas para Nanteleode. Mas precisava ser assim? Quando seu pai, Alain, lutou contra Lindsey fui o primeiro a me juntar à ele. Até que descobri que até o Rei usava a runa da resistência Celta e a utilizou para fazer com que os soldados ignorantes lutam-se por ele... Me permitam, Senhores! Pode entrar padre.” 

Então o Padre Tewi de logres, da corte da Condessa Ellen, com o seu hábito marrom amarrado por uma corda, seu rosto afilado, com os cabelos brancos cortados como monge, se aproxima. 

Padre Tewi: “Obrigado, Conde! Venho acusá-lo, Duque Enrick, de que o Senhor tem  conspirado contra a Britânia; que matou Lordes e até mesmo crianças em nome de uma falsa justiça. O Rei Alain é aliado deles assim como o Barão Brian, filho do matador de Padres, Barão Algar foi um dia.”

Conde Sanam de Bedegraine: “Meu irmão mais velho foi morto pela resistência Celta. Ele, seus filhos e sua mulher! Sir Sefnyn só estava tentando sobreviver. Quem nunca se aliou aos saxões para salvar as suas famílias? O Duque Enrick fez o mesmo e é meio saxão, filho de quem destroçou nosso povo.”

Duque Enrick: “Alguém tinha que fazer alguma coisa. Quem de vocês tentou defender nossos reinos?”

Rei Centurião Malahaut: “Mentira, estiveram em minha corte, soltaram meus escravos, mataram os meus guardas e mataram meu filho adotivo! Ele nunca aprendeu a falar. A única coisa que sabia fazer era lutar e me amar. Ignorantes! Tragam a armadura dele.” 

Então um legionário coloca a cabeça de um minotauro no centro da reunião. Eles notam que ela está rachada, com sangue coagulado e é toda de metal e é uma das peças mais elaboradas de armoria que já viram.

Rei Centurião Malahaut: “Guardas! Quero esses homens presos! Agora!”

Então os centuriões romanos e os lanceiros do Conde Sanam se aproximam.

Conde Robert (sacando uma espada curta debaixo de sua túnica): “Somente sobre o meu cadáver! A resistência Celta é responsável por estarmos todos vivos.” 

O Rei Centurião Barant de Apres de Malahaut saca uma gladius, que estava escondida, e dá um passo atrás. Conde Sanam de Bedegraine retira um punhal. Os Reis Lot e Uriens também tinham armas ocultas e se juntam ao Duque Enrick e ao jovem Barão Brian que estão desarmados. 

Rei Leodegrance: “Merlim! Eu solicitei que mandasse os escudeiros recolherem as armas de todos, antes de iniciarmos!”

O povo fica chocado e ao mesmo tempo se divide torcendo pelos Lordes. O Rei Leodegrance e o Duque Derfel pedem calma, mas não são ouvidos. O Conde Gilbert de Hertford e o Barão Macsen de Lonazep, por velhas rusgas, começam a trocar golpes de facas. Robert ataca, com a sua espada curta, o Conde Sanam de Bedegraine que se defende com um punhal. Mas, Conde Sanam, acerta um soco no rosto de Robert que gira em seu próprio eixo e cai desmaiado, deixando sangue no chão de terra. O Rei Alain luta com o Rei Centurião de Malahaut que joga areia em seu rosto e depois faz um corte em seu ombro, que tinha sido ferido gravemente na batalha em Netley Marsh, e o Rei Alain cai de joelhos gritando de dor. O Duque Scan ataca o Duque Enrick que está desarmado com um golpe em suas costelas. A lâmina transpassa a sua túnica e cota de malha e Enrick cai tentando ficar consciente de dor e sangrando. O Barão Brian, com o braço quebrado e costelas rachadas, por causa do desabamento da Abadia, é atacado por Conde Sanam que o derruba e se prepara para degolá-lo. 

Então Duque Enrick, ferido, escuta Deverell gritar no meio do povo, que se acotovela para assistir o duelo. O jovem escudeiro do Duque Enrick consegue empurrar os guardas e então atira uma espada para o seu senhor. Ela voa e cai próxima do Duque Enrick. Ao redor os lordes continuam a lutar. Enrick rola e consegue pegar a espada e a levanta acima de sua cabeça para golpear o Duque Scan. Então o rosto do Duque Scan parece congelar. Ele deixa a sua adaga cair e se ajoelha. O povo ao redor suspira. Os homens que estavam lutando param de se enfrentar. Todos se ajoelham: “Ele tem a Excalibur! Ele tirou a Excalibur da pedra! Salvem o Rei! Vinda longa ao Rei!” 

Duque Enrick: “Não! Esperem! Não fui eu que retirei a espada. Aproxime-se Deverell.”

Escudeiro Deverell: “Me desculpe, Senhor!”  

Duque Enrick: “Um rei não deve se desculpar.”

Todo o povo começa a falar entre si e a balançar a cabeça sem saber ao certo se aquele garoto será um novo rei.

Merlim: “Muito bem, Deverell Arthurius, ou em nossa língua: Jovem Arthur; Herdeiro de Uther Pendragon.”

Arthur: “O que? Eu, herdeiro do antigo Rei?”

Duque Scan: “O que é isso? Isso não está certo! Todos temos o direito de tentar.”

Rei Uriens: “Exatamente! Se um escudeiro conseguiu, qualquer um de nós poderá conseguir.”

Rei Leodegrance: “Acalmem-se todos! Vamos a catedral de São Paulo e lá todos poderão se candidatar.”

Nesse momento dois cavaleiros entram pelo portão de Londres; imediatamente o Duque Enrick se lembra quando aqueles dois trouxeram o garoto para ser seu escudeiro; Sir Ector e Sir Kay. 

Arthur: “Pai?”

Sir Ector: “Olá meu filho, dê-me um abraço! Conseguimos chegar Merlim, atrasados, mas chegamos.”

Merlim: “Na verdade você chegou na hora certa meu amigo. Desça do cavalo e venha conosco.”

A ESPADA NA PEDRA:

A multidão de pessoas seguem pelas ruas barrentas de Londres até a Catedral de São Paulo, com metade da construção desabada. Então, todos vão pelo lado de fora até o Jardim de Uther, agora sem a proteção das barras de ferro. Ali está a pedra sem a espada, de um lado Merlim e do outro o Padre Carmelo.

Merlim: “Coloque a espada novamente na pedra, garoto.”

O primeiro a tentar é o Duque Scan. Ele luta contra a espada que não cede o jogando para trás. Então o Rei Uriens o empurra e faz uma tentativa com o mesmo resultado. O Rei Alain de Escavalion impede o Rei Centurião Barant de Apres de Malahaut de tentar.

Rei Alain: “Deixe o garoto tentar!”

Seguido pelo Rei Leodegrance: “Isso mesmo! Deixem o menino.” 

Logo os milhares de pessoas ao redor do jardim de Uther começam a gritar o mesmo: “Deixem o garoto tentar!” 

Arthur: “Posso, Senhor?”

Duque Enrick: “Faça isso por todos nós, rapaz.”

O garoto com cabelos longos castanhos claros, com os seus dezesseis verões, se aproxima da espada lentamente e a toca com muito cuidado. Ele envolve as duas mãos no cabo de couro com fios de ouro. Todos percebem a respiração de Arthur acelerar, enquanto ele olha para a espada sagrada. Então, ele cerra os olhos e puxa a Excalibur, que não oferece resistência alguma. Ele olha para os lordes e o povo ao redor, com os olhos de espanto, e então eleva a espada acima de sua cabeça. Muitos gritam: “Salvem o Rei!” Salvem Arthur!” 

Merlim faz um sinal para o meio dos escombros e eles vêem as mãos de uma criança soltando um falcão e uma pomba. Os pássaros voam por cima de todos e o povo fascinado se ajoelha. Enquanto isso os lordes se dividem. Se ajoelham imediatamente, diante do suposto rei, Rei Leodegrance de Cameliard; Sir Ector e Sir Kay, pai e irmão de criação do garoto; Sir Hervis de Revil, um cavaleiro sem terras que veio à Londres testemunhar o Colégio Supremo, o Príncipe Lanceor de Estregales, O Rei Alain, Sir Brastias, Sir Bag, Arina e Sir Dalan. Eles vêem Sir Sagremor e Sir Accolon ajoelhados no meio do povo. Eles acabaram de chegar. Bedivere e Gawain hesitam, pois Arthur era um escudeiro como eles algumas horas atrás. Mas Sir Sagremor coloca a mão nos ombros deles fazendo-os ajoelhar. 

Rei Lot: “O que? Vocês estão loucos? Nós seremos governados por um garoto sem barba na cara?”

Rei Leodegrance: “Se o garoto retirou a espada e foi o escolhido, o garoto deverá ser o Rei.” 

Arthur: “Levante-se Pai e irmão! Cavaleiros! Por favor, não façam isso. Fiquem de pé.”

Duque Scan: “Isso é um absurdo! Uma insanidade e não vai ficar assim. Não aceitarei um bastardo como Rei. Vamos embora.”

Rei Lot: “Venha Gawain!”

Gawain: “Não vou meu pai! Não abandonarei meu rei.”

Rei Lot: “Para mim você morreu!” 

Rei Lot cospe no chão e espora o seu cavalo. O Duque Scan, Rei Lot, o Rei Centurião Malahaut e o Rei Uriens se retiram com seus lanceiros. O povo, sem ninguém para contê-lo, começa a se aproximar tentando tocar Excalibur. Merlim parece assustado.

Merlim: “Coloque a espada na pedra novamente, Arthur. Escutem todos! Cristãos e Pagãos; tenham calma. Nós iremos deixar novamente todos aqueles que desejarem tentarem a sorte e retirarem Excalibur da pedra. Espalhem a notícia para aqueles que se escondem. Façam peregrinarem para Londres. Temos que reconstruir a cidade. Digam para seus lordes virem testemunhar a retirada da espada da pedra. Estamos as portas do outono e temos pouco tempo para prepararmos a cidade para o duro inverno. Não se esqueçam que aqui é o único lugar seguro da Britânia!”

Padre Carmelo: “No dia dois de fevereiro, do ano 509 de nosso Senhor, todos poderão testemunhar a chegada do novo rei.” 

Merlim: “Arthur, você viu o que aconteceu? Quase tudo virou uma tragédia com o povo querendo te ver. Não podemos nos dar ao luxo de perdê-lo, Majestade. Em seu primeiro ato como Rei, é melhor que escolha os dez Cavaleiros mais honrados para proteger a espada e você.”

Arthur: “Cavaleiros! Todos vocês são grandes homens; cheios de glória e honra. Gostaria de pedir ao Duque Enrick, Sir Ector, Sir Kay, Sir Brastias, Duque Bernard, Barão Brian, Sir Bag, Sir Sagremor, Sir Accolon e o Rei Alain. Os outros lordes retornem as suas terras e espalhem as boas novas.”

Noite:

Anoitece e fogueiras são acesas por toda Londres. Milhares de plebeus e lordes se estabelecem ao redor da cidade. Muitos trazem provisões e as dividem. Os dez escolhidos estão acampados na frente da pedra onde está a Excalibur. Sem perder o hábito, Arthur se levanta e vai até a panela preparar a comida para os nobres.

Duque Enrick: “Não precisa fazer isso Majestade.”

Arthur: “Deixe eu fazer isso. Nem que seja pela última vez, Senhor.” 

Então todos se servem com o picado de carne de ovelha e hidromel preparado. Alguns cristãos rezam ao redor da pedra da espada e druidas a benzem. Há música e comemoração. A Condessa Ellen chega ao anoitecer; ela se junta aos heróis. Ela parece ter envelhecido bastante. Ellen pega nas mãos de Arthur e faz uma reverência e faz o mesmo com o seu filho: o Conde Robert. Ela se emociona.

Condessa Ellen: “Estão todos adultos! O tempo passa muito rápido. Mas cumpri minha missão. Acho que todos nós cumprimos. As estradas estão seguras, por hora. Estão cheias de peregrinos e cada Lorde, dos maiores aos pequenos, estão com as suas milícias vindo para cá. Os saxões devem ter voltado para as suas terras; só devem retornar no verão, depois da colheita.”

Arthur senta com um prato de comida e observa o fogo em silêncio. Todos os olhos do mundo parecem estar sobre ele. Ao seu lado estão Sir Ector e Sir Kay, seu pai e irmão adotivos.

Arthur: “Duque Enrick, como era o meu pai?” 

Duque Enrick: “Um grande Rei. O melhor guerreiro que já vi lutar; o maior líder que já segui.”

Sir Ector: “Sabe, quando fiquei viúvo não tinha mais motivo para viver, meu filho. Criávamos cavalos e eu tinha um menino de dois anos para cuidar, não é, Kay? As amas  me ajudavam, mas um dia Merlim chegou com um pequeno bebê, disse que eu tinha a missão da minha vida: criá-lo e educá-lo. A criança se chamava Deverell Arthurius. Merlim disse para jamais revelar o segundo nome do menino: poderia ser muito perigoso. Nunca quis saber o motivo. Kay teria compania e eu um objetivo que me ocuparia a mente por muitos anos. Aprendi a amá-lo como um filho e espero que não esqueça disso, Arthur.”

Os dois se levantam e se abraçam. Kay se junta à eles. 

Sir Bag: “Maldita fogueira! Entrou uma fulijem em meu olho!”

O discurso:

Pela manhã aquelas pessoas desvalidas, a maioria desabrigadas, se acotovelam tentando ver Arthur. Os soldados dos Lordes que estão ali tentam contê-los. Na verdade, ninguém sabem quem é ele e nem conhecem o seu rosto. O povo fica nervoso e começa um empurra, empurra. Talvez dez mil pessoas. Uma tragédia se anuncia. 

Merlim: “Onde está Arthur?”

Sir Brian: “Não sabemos.”

Merlim: “Vocês foram escolhidos para protegê-lo. Como não sabem?”

Então eles escutam a voz do garoto vindo da pilha de pedras dos escombros, das estalagens que caíram, no meio da multidão. Arthur está lá em cima.

Merlim: “O que ele está fazendo?”

Arthur: “Se acalmem! Todos... Por favor!” 

Aos poucos todos vão ficando em silêncio. 

Arthur: “Meu pov... Aldeões... Britânicos! Há dias não poderia imaginar que eu estaria aqui falando pra toda gente.”

Aldeão: “Quem é esse? O que está fazendo aí?”

Arthur: “Sou Arthur!”

Povo: “Disseram que Arthur era alto e forte como Uther.” 

Arthur: “Não conheci meu pai para dizer como ele era. Mas até ontem de manhã eu não era ninguém. Aliás, não sou ninguém. Até ontem era um escudeiro que tentava sobreviver num mundo escuro e perigoso. Que viu mais coisas que meninos da sua idade possam ter visto. Sim, eu era um escudeiro... E que jurou seguir o seu Senhor e o admirou por não ser cruel e ser justo no momento certo. Eu, Arthur, um ninguém que não sabia nem seu próprio nome que viu nessa cidade o seu povo passar fome. Crianças enforcadas nas árvores e disse que isso nunca poderia acontecer novamente. Vi um grande Rei subir tão alto e por estar tão perto do sol ser tragado para terra em um piscar de olhos. Aliás sou Arthur e continuo não sendo ninguém. Mas sou aquele que tirou a espada da pedra. Sim, retirei a Excalibur. Vi muitas mortes injustas e sofrimento e vi a terra sem Rei, doente. Mas vejo uma esperança, uma chance. Está diante de nós uma oportunidade da espada sagrada não proclamar somente a morte, mas sim, a cura da  nossa terra! A cura da Britânia.”

Arthur abaixa a cabeça, enquanto as pessoas se aproximam querendo tocá-lo. Outros se ajoelham e muitos se abraçam. Merlim respira aliviado. Aquelas palavras enchem o coração de todos com esperança. 

Nos próximos vinte dias todas as pessoas começam a retirar os entulhos. Aqueles que conseguem trabalhar com madeira começam a cortá-la nas florestas próximas. Outros que sabem construir começam a preparar as fundações de novas casas. As casas e palácios romanos, feitos de pedra, são esquecidos e as estalagens e casas são feitas de madeira. Os mestres construtores de igrejas se põe a reconstruir a Catedral de São Paulo. Alguns anos serão necessário para que Londres volte a ser uma cidade novamente. 

Sussex:

Então o outono chega e mesmo assim as pessoas não deixam a cidade. Barcos começam a atracar trazendo comida e bebida. Agora os dez cavaleiros escolhidos e o rei se refugiam na grande estalagem, a primeira que foi reconstruída: A Taverna do Menestrel Dançarino. Os cavaleiros e escudeiros jovens estão todos bebendo e comendo. Arthur está cantando e batendo na mesa junto com seus cavaleiros, Sir Bernard, o Barão Brian, Sir Accolon, Sir Sagremor, os escudeiros Bedivere, Gawain, Cormak e Breno. 

Os Cavaleiros mais velhos já foram dormir. Sir Bag grita lá de cima: “Vamos parar de esporro seus porqueira! Quanta energia dessa piazada!”

Conde Robert: “Tudo muito bom, tudo muito bem. Mas estou preocupado... Esse é um reinado sem terras, sem nenhuma porra de uma libra. Essas pessoas terão que voltar, depois do inverno, para plantar. ”

Merlim desce a escadaria e toma um gole do copo de Brian. Quando ele devolve parece estar cheio novamente. Enquanto ele fala o jovem Barão olha para o copo e olha para o druida, olha pra o copo e novamente para o druida.

Merlim: “Escutem bem! Não podemos deixar que todos vão embora ou a nossa causa será perdida. Ninguém pode saber disso garotos. Barão Brian, Sir Bernard e o Rei Arthur, nas primeiras horas da aurora, peguem os seus cavalos e esperem na saída da cidade.”
Então Merlim deixa a taverna e eles escutam o cavalo trotando para longe. Pela manhã eles aguardam, aos primeiros raios de sol, próximo a saída da cidade. Merlim não aparece. Milhares de pessoas circulam ao redor da cidade, mas ninguém reconhece o garoto rei. 

Conde Robert: “Esse velho maluco! E agora, o que fazemos?” 

Arthur: “Podemos tentar achá-lo. Mas onde?” 

Então eles vêem uma coruja. 

Barão Brian: “Olhem, era a coruja de sua irmã, Bernard. Vamos atrás dela. Venham!”

O pássaro começa a voar em direção ao Sul. Deixando Londres, atravessando o Tâmisa pela velha ponte, o grupo cavalga por algumas horas e entra na floresta de Perdue, nas West Downs.  A coruja voa por entre as copas das árvores.

Conde Robert: “Que merda, Sussex!”

Arthur: “Melhor estarmos preparados. Deixem as espadas à mão.”

Eles cavalgam pela floresta, seguindo o pássaro que às vezes pousa nos galhos e fica os observando. O caminho é íngreme e leva sempre para baixo em um barranco coberto de lama. Eles passam por entre duas rochas em uma passagem estreita, onde parecia não haver uma. A mata é bem fechada e o grupo deixa as montarias. Então a coruja ouve algo e voa desaparecendo por entre as copas das árvores. Arthur levanta as mãos pedindo silêncio. Então, eles escutam um som de virotes de besta, passando raspando por eles. 

Arthur: “Achem-os e não os matem. Não parecem que querem nos acertar, ou já estaríamos mortos numa hora dessas.” 

Breno: “Ali, Senhor! Atrás das árvores.”

Arthur, consegue ver um dos homens escondidos ali. O jovem Rei ergue seu escudo enquanto se aproxima. O homem se assusta e dispara a sua besta fincando na proteção. Arthur rola para o lado esquerdo de uma árvore e quando o homem se virá para lá, fazendo mira com a sua besta já recarregada. Arthur, muito ágil, aparece atrás dele o  imobilizando com um golpe, com a borda do escudo, em sua nuca.

Miliciano: “Senhor! Tenham piedade. Ele nos deixou aqui. Disse para ficarmos anos se precisasse e que era para colocar nossos filhos, quando nossa saúde fraquejasse, até que vocês chegassem!”

Então os três homens empurram o que parecia uma pedra cheia de limo e folhagens e um grande portão de madeira. Ele se abre para uma escada que desce o morro em zigue zague, esculpida nas pedras, desde o início dos tempos. Então o grupo chega na entrada de uma caverna; está toda escura. Um corredor estreito leva para baixo. Então Robert escorrega e bate em Arthur, que tromba no escudeiro Cormak e depois no resto do grupo. Eles rolam no escuro, a tocha se apaga, então eles se embolam numa parte plana, uns trezentos metros abaixo da entrada. 

 Robert: “Merda de perna!”

Arthur: “Estão todos bem? Brian? Onde está você?” 

Sir Bernard: “Ele parece ter sumido.”

Brian acorda com uma dor de cabeça. Parece haver várias coisas o machucando embaixo de suas costas. Então um som de algo vindo em sua direção deixa o jovem Barão com os pelos da nuca eriçado. Uma voz forte de uma velha fala.

Nimue: “Quem se aproxima? Quem entra nos domínios da escuridão!”

Barão Brian: “Brian Herlews...”

Nimue: “Responda cavaleiro! Quem é o seu Rei?” 

Barão Brian: “Rei Arthur Pendragon.”

Nimue: “Que espada ele empunha?” 

Barão Brian: “Excalibur.”

Então Brian tateia no escuro e sente o teto baixo. Brian acha uma espécie de alçapão nele. Quando ele abre, o escudeiro Breno cai em cima do Barão. Um por um os outros descem para a câmara inferior onde Brian está. Eles caminham escorregando naquelas pequenas coisas no chão, ocultas pela escuridão. Então eles escutam uma risada de uma jovem ecoar no túnel e vêem uma luz de tocha surgir pelo caminho que vieram. Alguém desce pelo alçapão. Robert saca a sua espada e golpeia enquanto algo passa voando perto de seu rosto.

Robert: “Sai, filho da puta!” 

Merlim: “Robert de Sarum! Guarde já essa espada! Vocês não tem paciência para nada. Nem esperar um velho. Mas, vejo que conseguiram sem mim” 

Merlim bate seu cajado no chão e todas as tochas do corredor se acendem e revelam o longo corredor, que se perde de vista para os dois lados. Em frente à eles de pé está Nimue. A menina agora com treze primaveras, criada com os rapazes em Avalon. Ela os abraça. 

Nimue: “Fiz bem, Merlim?”

Merlim: “Do jeito que eu te ensinei!”

Nimue: “Desculpe Brian, mas você não é o primeiro a descer até aqui.”

Ali eles vêem seis esqueletos carbonizados, próximo a parede, e libras e mais libras  em moedas, cobrindo o chão que leva às dezenas de salas e caminhos que se perdem de vista na escuridão. Barris e mais barris com peles, objetos de prata e ouro, armas e armaduras. 

Merlim: “Vislumbrem a herança deixada para a Britânia. Vislumbrem o início de uma nova era. É a partir de cada pedaço dessa riqueza vinda de todas as partes dessa ilha, de todos os povos, que você construirá um novo Reino, Arthur Pendragon. Tudo está interligado, os destinos cruzados na roda do tempo em um ciclo interminável de vida e morte. O bem e o mau nunca se separaram. Assim foi a história do Bando Branco. Contemplem o  início de uma nova era; contemplem o legado de Sir Dylan de Tishea.” 

Então o grupo deixa a caverna. Vários homens do Bando Branco aparecem; quinze deles. A fina neve começa a cair e o vento frio a soprar.

Merlim: “Vamos embora meus jovens ou você esqueceu que dia é hoje, Arthur? É dois de fevereiro e os Lordes estão esperando que você retire a espada de novo da pedra. Selarei a caverna e deixaremos os guardiões para protegê-la. Escutem! Ninguém deve entrar na caverna. Nem mesmo vocês!”

Então Merlim ergue os seus braços.

Merlim: “Egwyl! 

A frente da caverna desaba bloqueando a entrada.

Merlim: “Whisper Ddraig!” 

Nesse momento todos ouvem um rugido tão alto, vindo lá de dentro, que a caverna e o chão estremecem. Os rapazes e os sentinelas ficam com os olhos espantados de medo. 

Merlim: “Afinal, não iam querer perturbar o Dragão, não é?”

E Merlim sobe a escada, apoiado em seu cajado, seguido pelos jovens cavaleiros. O som da voz do Druida se perde na floresta enquanto se afastam.

Merlim: “Há muito o que se fazer rapazes. Um castelo; sim um castelo! Temos terras a conquistar. Ah, e não se esqueça; os homens precisam de algo para seguir; uma nova ordem; uma irmandade!”

Arthur: “Mas já existe uma Merlim! Os Cavaleiros da Cruz do Martelo!”

Merlim: “Sim, existe, e eles foram grandes heróis! Mas precisamos de algo novo, mas sem esquecer o que os cavaleiros antes de vocês fizeram! Como um círculo que nunca se quebra!”

Arthur: Um círculo, é? Espere! Bernard não é no salão de banquete da casa do seu pai que tem uma mesa redonda enorme?”  

FIM