terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Aventura 18: O Filho do Encantador de Cavalos, Ano 493, Parte 1


Ano Domini 493. Início da primavera. Muita coisa mudou desde Sir Enrick, Lady Marion e o Barão Algar começarem a servir o Rei Uther. Apesar de Logres prosperar, um clima de insegurança se instaurou no Reino. Merlim está sendo caçado nos quatro cantos da ilha. Existem notícias de que os Saxões vem pilhando e saqueando, desde o norte, fazendo ataques rápidos e transformando muitas vilas Britânicas em assentamentos bárbaros. O Príncipe Madoc morto há dois anos e o sequestro do filho do Rei, recém nascido, fez com que Vossa Majestade e a Rainha Igraine se isolassem no castelo na Cornualha. Nenhuma notícia é recebida deles desde então...

Feudo Winterburne Gunnet

Depois do Beltane os servos passam a preparar as terras para serem cultivadas. Já a milícia começou a treinar durante o inverno, cada vez com mais intensidade, preparando-se para a campanha do verão. À leste da toca do lobo, como os servos chamam o castelo de madeira do Barão, na área de treino, os soldados treinam cargas contra bonecos feitos de palha. Algar conversa com o Sargento Tegfryn, tomando uma caneca de madeira cheia de água, observando os homens.

Sargento Tegfryn: “Bom dia Barão! Olhem esses homens! Melhoraram muito desde o último verão!”

Barão Algar: “É verdade! Estão fortes e mais ágeis!”

Sargento Tegfryn: “Sem disciplina e uma vontade descontrolada de matar sem medo, não há maneira de termos bons soldados. Estão mais corajosos, confiantes e leais!”

O sargento percebe que o Barão, devido as torturas sofridas pelo Arcebispo Dubricus no ano passado, manca um pouco da perna direita.

Sargento Tegfryn: “E as cicatrizes sararam todas? Eu percebi que o senhor passou mancando o inverno inteiro.”

Barão Algar: “Ganhei uma bela tatuagem e a perna direita ainda dói. Isso logo passa. Mas tem feridas que nunca fecharão...”

Algar diz erguendo seu gibão de couro exibindo a grande cicatriz em formato de cruz queimada no peito.

Sargento Tegfryn: “Faça um martelo com esse desenho Barão!”

Barão Algar: “Ouvi falar que em Londres tem um bom tatuador...”

E os dois guerreiros caem na risada.

Sargento Tegfryn: “Então, senhor! Soube que temos uma missão. Resgatar a família de Sir Enrick e escoltar o Conde Roderick por uma terra cheia de saxões até Eburacum. Não será fácil, mas é assim que eu gosto de trabalhar. Já pensou como será feito?”

Barão Algar: “Ainda não sabemos! Tenho certeza que Sir Enrick deve estar preparando tudo.”

Tegfryn percebe que alguns soldados estão cansados e treinando sem muito entusiasmo.
Sargento Tegfryn: “Desculpe Barão, só um instante! Vamos molengas! Ataquem! Levantem este escudo. Dêem um passo à frente e girem a cintura. O golpe fica muito mais potente assim. Vocês vão ter a honra de aprender com um dos melhores homens em combate em Logres. Por favor Barão, mostre pra eles como é que se faz!”

Algar pede seu machado de duas faces para Caulas, seu escudeiro. O Barão se aproxima de um dos bonecos de palha e gira a arma por cima da cabeça para um lado. Depois faz a manobra em sentido contrário. O machado assobia cortando o ar. Então bem rápido ele acerta um lado e depois atinge o outro do boneco de palha, cortando-o ao meio. Os soldados olham com atenção e ficam impressionados.

Barão Algar: “O show acabou. Treinem forte! Vamos!”

O Sargento Tegfryn caminha por entre os homens que golpeiam as formas humanas de palhas com ânimo renovado.

Sargento Tegfryn: “Não esqueçam que iremos atravessar a ilha infestada desta praga saxônica. Quem não souber se defender ou usar sua arma direito estará morto! Quero cada soldado andando dia e noite com a sua cota de malha, escudo, elmo e armas. Vocês irão fazer as refeições com elas. Tomar banho com elas. Dormir com elas e fazer amor com suas mulheres com elas. Tem que se acostumarem com o peso disso tudo! Dedicação e sacrifício senhores é só isso que peço! Temos vidas para proteger!”

Eles respondem todos juntos.

Soldados: “Sim senhor!”

Por vezes ele para o treinamento pega uma das armas e mostra aos homens como devem segurá-la e golpeá-la. Então eles voltam a praticar. Servos com barris cheios de água aguardam os soldados em treinamento. Será a recompensa no final do dia. Caulas, o escudeiro sobrinho de Algar ,treina duro com os soldados.

Caulas: “Tio! Tegfryn vai nos esfolar vivos desse jeito!”

Barão Algar: “Não quero ouvir um piu garoto! Seja homem!”

Sargento Tegfryn: “Sem reclamar Caulas! Isso pode significar a diferença entre estar vivo ou morto. O Barão conhece muito bem o inimigo.”

Neste momento vem andando Brian. Ele tem cabelos ruivos iguais o da mãe e olhos verdes. Seu rosto branquinho é coberto de sardas. Martelo e o Trovão, os mastins de Algar, vem correndo colina abaixo com ele. O menino de três verões de idade corre e agarra a perna do Barão.

Brian: “Pai, quero lutar!”

Brian pega um galho do chão vai até um soldado e lhe bate na panturrilha. O homem ri e começa a brincar com o pequenino. O soldado finge se defender com o escudo, depois finge atacar a criança. Brian se diverte. Martelo e Trovão também saltam brincando tentando morder o homem.

Barão Algar: “Filho! Deixe o rapaz treinar.”
Soldado: “Está tudo bem Barão. Pode deixar, adoro crianças.”

Então o menino corre atirando o galho que usava como espada no chão e para na frente de Algar.

Brian: “Pai. O que é grávida?”

Barão Algar: “Ah, veja bem... É... Sabe... Porque você está perguntando isso?”

Brian: “A mãe disse que está grávida. Tá na roca fazendo fio lá no castelo!”

Então o menino se vira e sai correndo no meio dos soldados que se divertem e dão risadas com a presença do pequeno ruivinho.

Feudo Dinton

Nas terras de Sir Enrick o som de aço contra aço não para da aurora ao pôr do sol. Depois do susto que passaram em Tintagel e do sequestro da sua família pelos saxões, o Cavaleiro tem tido pesadelos terríveis recorrentes. Foi um inverno difícil por tudo o que aconteceu. Então o Flecha Ligeira acorda no meio da madrugada suado e aos berros, Lady Marion senta na cama e abraça o Cavaleiro.

Marion: “O que foi meu querido?”

Sir Enrick: “Não aguento mais. Sempre o mesmo sonho! Todos os dias. Isso está me enlouquecendo. Eu vejo uma tropa de cavalos correndo solta pelo campo por uma cadeia de colinas onde uma deusa me olha nua, coberta de tatuagens com tribais célticos e cavalos. Depois eu vejo os olhos de meu pai chorando e refletindo as construções do Haras desmoronando. E nada de minha mãe. Depois surge o desgraçado do saxão. O Rei Octa com parte do escalpo arrancado, rindo, enquanto chicoteia os meus irmãos. Por fim uma onde de fogo vem da escuridão e envolve tudo e só ficam corpos carbonizados fumegantes caídos no chão. Horrível!”

Os dois ficam em silêncio no quarto escuro do castelo abraçados.

Finalmente vem a primavera e as colinas ficam verdes e os animais correm pelos campos cheio de flores. Filhotes de todas as espécies brincam pelo bosque. As crianças, agora com doze anos, resgatadas do pântano por Sir Enrick, depois de treinadas desde pequenas no arco, oito horas por dia, estão fortes e disciplinadas com músculos e peitorais desenvolvidos.

Marion e Enrick estão assistindo os meninos atirarem em alvos, na área de treino. Da herança que trouxeram do antigo povo, os garotos tem a resistência acima do normal. Elas já adquiriram os hábitos celtas e são respeitosos, como o Padre Carmelo ensinou, com as duas religiões. Alguns são pagãos e outros se converteram ao cristianismo e vivem em harmonia. Todos tem cabelos compridos e usam ossos enfeitando as pontas. Para a proteção usam armaduras de couro sem mangas cobertas com peles de urso. Eles vestem braceletes de couro longos até o cotovelo para se protegerem dos golpes de espadas e das cordas dos arcos. Cada um leva uma adaga na cintura para luta corpo a corpo, presos num cinturão com a bainha e fivela com a espiral tríplice celta. Vestem calças de camurça e botas de pele de urso com fitas amarradas que permitem marchar longas distâncias. No rosto usam máscaras assustadoras feitas de couro enfeitadas com dentes humanos e pelos de lobo.

Padre Carmelo: “Atenção garotos! Vocês estão invisíveis e são a arma daqueles que nos olham lá do alto. Ninguém os perceberá, ninguém os alcançará. Nada os derrubará! Fogo não os atingirão. Facas e lanças se quebrarão ao lhes atacar. Preparar Ventos do Pântano! Silenciosos! Soprem!”

Com precisão cirúrgica eles disparam todos ao mesmo tempo. E todas as flechas atingem os alvos. Eles se pões em posição de sentido novamente em uma coreografia perfeita.

Padre Carmelo: “Isso garotos! Vocês são os melhores. Sir Enrick e Lady Marion! Deixem me apresentá-los. O orgulho de Carmelo: Os mortais arqueiros conhecidos de agora em diante como Os Ventos do Pântano. Aqueles que varrem tudo pela frente. Estão prontos para lutar! Meu trabalho está feito! Acho que valeu a pena estes anos de treinamento.”

Sir Enrick: “Muito bem Padre! Fez um trabalho perfeito!”

Padre Carmelo: “Gostaram das máscaras? Foi idéia dos garotos. É uma homenagem aos antepassados deles. Acho que o inimigo irá se assustar muito quando vê-los. Os meninos estão ansiosos para os mestres falarem o que acharam deles?”

Marion: “Parabéns meninos! Irão assustar o inimigo. Aliás eles vão tremer de pavor. Prometo que estarei ao lado de vocês em batalha! São o nosso orgulho também!”

Padre Carmelo: “Os Trebuchets também estão prontos senhor. Os engenheiros deixaram essas armas de cerco letais. Agora são O Fazedor de Viúvas, O Quebrados de Almas e como o senhor pediu o Mensageiros de Hades. Prontos para serem carregados em nossas carroças e partirem com o nosso exército.”

Sir Enrick: “Emagreceu um pouco Padre? É o treinamento militar?

Carmelo: “Sim! Estou retomando a minha forma! Mas não abro mão de meus franguinhos! Ahahahha!”

Na área de terra ao lado os homens do Pântano treinam com lanças, martelos e machados. Sargento Wistan os comanda.

Sargento Wistan: “Milaidie! Senhor Flecha Ligeira! Estes homens não cansam nunca! É impressionante!”

Eles os olham com respeito. Na verdade não se distinguem mais esses guerreiros dos outros. A não ser pela pele mais morena e cabelos pretos longos e crespos.

Sargento Wistan: “É uma honra recebê-los aqui embaixo senhor e senhora Stanpid! Estamos prontos! Foi um longo período de treinamento. Marchamos todos os dias de Dinton até Sarum e voltamos faça neve, chuva ou sol. Oswalt nos acompanhou todos os dias sem reclamar. Apesar de às vezes estar mais preocupados com as servas do castelo.”

Padre Carmelo se aproxima.

Padre Carmelo: “Se me permite Wistan! Cavaleiros, Apresentem-se!”

Um grupo formado por quinze cavaleiros surge de trás de um celeiro. Todos vestindo negro. Os rostos enfaixados com panos e montarias da mesma cor. Eles param na frente dos heróis.

Padre Carmelo: “Me permiti dar um toque pessoal, senhor! Esquadrão da Morte à Cavalo! Esquentem o aço!”

Então com pederneiras os Cavaleiros aproximam as chamas das lâminas das espadas e as armas se inflamam. Dando uma impressão infernal a tropa. Marion e Enrick ficam boquiabertos com a cena diante de seus olhos.

Padre Carmelo: “Receitinha romana meu senhor! Vai dar trabalho para o ferreiro, mas vale a pena.”

Sir Enrick: “Com certeza vai Padre... Com certeza!”

Padre Carmelo: “Todos esses homens me pediram uma coisa. Se voluntariaram quando o senhor propôs a formação do Esquadrão mas se apresentaram assim. Sem mostrar o rosto. São anônimos. Dizem que a morte não tem nome. Nunca falam. Nem mesmo entre si. Comentam por aí que podem existir até mesmo nobres entre eles e que tem um ritual de iniciação. Dizem que poucos conseguem passar por eles. Sei também que esses panos que usam no rosto foi inspirado em Madoc e a sua chegada heroica em Figsbury. Falam que não mostram a face pois a morte não tem rosto. Eles estão a sua disposição meu senhor e senhora!”

Sir Enrick os encara sério por vários minutos.

Sir Enrick: “Serei um de vocês! Serei um Cavaleiro do Esquadrão da Morte! Serei um Sine Nomine!” (NR: Sem nome)

Então ao anoitecer. Lady Marion, Sir Enrick e Oswalt estão sentados na sala de banquetes do Castelo de Madeira. A comida está quente e fumegante, um guizado de carneiro com legumes acompanhado por frutas e cidra é colocado nos pratos com colheres de madeira por duas servas.

Oswalt: “Irmão e Cunhada! Eu quero correr na frente da tropa e arrancar cabeças! Não aceito o que aconteceu com nossa família! Eu sei que sou o melhor dos que estavam treinando! E não tenho medo de nada!”

Sir Enrick: “Muito bom rapaz, é assim que se diz! E como está o treinamento?”

Oswalt: “Estou lutando com espada e escudo. Wistan disse que levo jeito com a arma.”

Sir Enrick levanta, vai até a parede do salão onde está uma espada bonita de cavaleiro pendurada. Ele retira da bainha.

Sir Enrick: “Quando fui ordenado Cavaleiro por Vossa Majestade, Sir Bag me deu a sua espada. E agora te passo para que faça bom uso dela. Seja honrado e justo!”

Oswalt com os seus quatorze verões fica boquiaberto quando recebe a arma. Ele olha a lâmina prateada. Passa mão devagar pelo aço afiado e a pega pela empunhadura erguendo a espada fazendo brilhar com o fogo da tocha presa à parede.
Oswalt: “Obrigado Irmão! Obrigado mesmo!”

Então ele olha sério para o Flecha Ligeira.

Oswalt: Ah! Você poderia emprestar o Hefesto pra eu ir até Sarum? Syan, escudeiro de Marion vai me acompanhar. Eu quero ver uns amigos e levar um pedido de encomenda para o ferreiro do Conde que o mestre de armas Wedros fez. Ele quer mais malha de ferro porque as espadas flamejantes desgastam rapidamente.”

Sir Enrick: “Eu vou junto então!”

Oswalt: “Não precisa! Já sou um homem crescido!”

Sir Enrick: “Vou fingir que acredito rapaz! Não nasci ontem. Você tem coisa mais séria pra se preocupar. Está ficando mal acostumado com a vida boa do feudo.”

Oswalt: “Poxa, vocês não me entendem! Ninguém me respeita mesmo!”

Oswalt, irritado, sai pela porta principal batendo-a depois de sair. Marion e Enrick continuam a jantar quando derrepente a arqueira começa a ficar branca e passar mal. Ela parece ficar tonta e despeja tudo que estava em seu estômago no chão.

Sir Enrick: “Está todo bem minha lua?”

Marion: “Enrick! Tudo faz sentido. Estou com as regras atrasadas e enjoadas há alguma semanas. Marido... Só pode ser! Terás um herdeiro! Estou grávida!”

Sir Enrick, sem palavras, abraça Marion e corre de dentro do salão. Assobia para Hefesto que surge trotando pela porta da estrebaria. O Cavaleiro monta no corcel e desce a colina aos berros em direção a vila. Os servos, soldados e Padre Carmelo saem de suas casas e comemoram junto com o Flecha Ligeira com palavras amigas. Ao anoitecer, em volta do totem Wiccano da deusa Epona, barris de hidromel são servidos e uma grande fogueira é acesa. Um javali é morto e assado. Todos os servos e guerreiros dançam e comemoram junto com o Flecha Ligeira e Lady Marion até ao amanhecer.

Feudo Winterburne Gunnet

Algar pega o seu cavalo e coloca o pequeno Brian na sela. Ele sobe a todo galope até o Motte and Bailey. Ao entrar na parte de cima do forte de madeira encontra a Baronesa Adwen na roca preparando fios para fazer roupas. Algar a abraça pelas costas.

Baronesa Adwen: “O que foi esposo? Que cara é essa?”

Barão Algar: “Qual a palavra que você disse para o pai lá em baixo Brian?”

Brian: “Grávida!”

Baronesa Adwen: “Eu esqueço que esse menino é tão esperto! Fala tudo o que lhe vem a cabeça! Mas é verdade marido. Teremos mais um bebê!”

O Barão ergue sua esposa e rodopia Adwen enquanto Brian ri da cena. Então, o castelão de Algar entra no quarto de fiar.
Björk: “Meu senhor! Uma mensagem! Ela têm o selo de cera do Conde Roderick.”

No feudo de Sir Enrick a mesma mensagem é entregue.

Mensagem: “Cavaleiros de Salisbury! Estão convocados a comparecerem daqui a três dias com as suas forças em Sarum. Os Lordes terão audiência comigo na hora do almoço para discutirmos os planos de resgate da família Stanpid caída em mãos saxônicas e a minha escolta que farão até o norte ao Reino de Malahaut para fazermos uma aliança e enfrentarmos os bárbaros. Sem mais. Conde Roderick.”

Audiência no salão do Conde Roderick em Sarum

Três dias depois eles partem cedo de suas terras e chegam nas muralha de Sarum. Os exércitos estão acampados do lado de fora do portão leste. As milícias de todos os Cavaleiros da Cruz do Martelo estão ali. Mas existem dois brasões diferentes que chamam a atenção. Os guerreiros que estão sobe a primeira bandeira, bordada em fios prateados com o desenho da árvore da vida, estão todos tatuados no rosto e braços. Alguns usam armaduras completas de placa de aço, outros somente cota de malha e alguns somente uma proteção de couro sem manga. Na segunda bandeira, azul com espirais verdes, estão homens com escudos ovais verdes. Usam crinas de cavalos tingidas de azul saindo do elmo oval. Eles usam cabelos longos presos para trás e bigodes longos castanho claros e ruivos. Vestem chales presos no ombro quadriculados em azul e verde. Suas proteções são cotas de couro e nos braços vestem braceletes de couro.

Algar se encontra com o Flecha Ligeira e Marion na área do acampamento destinada aos Cavaleiros da Cruz do Martelo.

Barão Algar: “Serei pai novamente amigos!”

Marion: “Teremos um bebê também!”

Sir Enrick: “Que sejam grandes guerreiros!”

Barão Algar: “Podem ser menino ou menina, porque em sua casa tanto faz! Guerreiro ou guerreira será nobre e corajoso! Como seus pais!”

Sir Dylan está com os seus soldados, caminhando por cada grupo, dando algumas risadas e conversando animadamente. Sir Dalan está com ele.

Sir Dylan: “Olha só quem está aí! Irmã como vai? Cunhado? Barão? Foi um longo inverno! Como estão?”

Marion: “Será tio Dylan!”

Sir Dylan: “Mesmo? Serei Tio! Essa uma é uma excelente notícia! Hoje a bebida será liberada soldados! Hidromel e Cidra para todos!”

Os soldados os cumprimentam a distância.

Sir Dalan: “Então Enrick, alguma notícia de sua família?”

Sir Enrick: “Por enquanto nada. Estou preocupado.”
Então um chifre soa do castelo do castelo por entre as ameias.

Sir Dylan: “Vamos amigos, Conde Roderick e os outros cavaleiros nos aguardam no castelo.”

Então eles entram montados em seus corcéis de batalha na movimentada Sarum. Todos os moradores da cidade prestam reverência quando os heróis cruzam a ponte levadiça do portão do Tolo, situado à leste da cidade. Os Cavaleiros sobem o monte que leva ao castelo, cruzam o pátio e entram no salão de audiências do Conde. Na grande mesa estão sentados Sir Jakin, Sir Amig, Sir Elad e o Conde Roderick acompanhados por Sir Verius e Sir Alain, que conheceram na cornualha no castelo de Terrabill, quando foram detidos pela guarda real.

Verius é um cavaleiro baixo, entroncado de cabelo ruivo e barbas longas até a barriga. Suas tatuagens celtas azuis no rosto e braços se destacam pela cota de malha, amarrada por um cinto de couro marrom, sem mangas. Sua voz rouca é alta e forte. Ele é um pouco mais velho que os heróis. Urco, seu Rotwailler, está deitado ao seu pés.

Sir Verius: “Como vão? Não tivemos tempo de conversarmos em Terrabill! Mas depois da injustiça que sofreram e quando soubemos da escolta que iriam fazer do Conde e sobre o sequestro da família de Sir Enrick decidimos nos juntar à vocês. Vou arrancar os bagos para que não tenham mais filhos esses malditos saxões daqui até a muralha no norte!”

Sir Enrick: “E eu estarei ao seu lado amigo!”

Também está presente Sir Alain de Carlion. O Cavaleiro é alto e magro. Seu escudo celta oval cheio de pinturas verdes e azuis está encostado atrás dele na parede. Tem cabelos lisos longos castanhos e um bigode comprido pendendo até o peito. À sua frente, colocado na mesa, está um elmo aberto com uma crina de cavalo tingida de azul. Parece ser um homem mais sério, devotado a religião celta.

Sir Alain: “É uma honra senhores e senhora. Quando Verius me falou dos últimos acontecidos e soubemos que partiriam em campanha disse na hora: “É pra lá que vamos. Precisamos ver essa menina, Marion, lutar!”. A Deusa sempre nos guia sempre para perto da verdade. Você tem muita sorte Sir Enrick de tê-la ao seu lado! Milady, gostaríamos de ter a honra de lutar em sua unidade. Seria possível?”

Marion: “Serão bem vindos Cavaleiros!”

Roderick: “Sejam bem vindos e sentem-se homens, por favor!”

Sir Amig: “Olha só! Princesinha, Genro e o Barão! Como vão?”

Barão Algar: “Vovô, como vai?”

Sir Amig: “Vovô é o cazzo, como diriam os romanos!”

Sir Enrick: “Mas será Avô Sir Amig!”

Sir Amig: “O que?”

O veterano guerreiro fica pálido e coloca a mão no coração.
Marion: “Isso mesmo Pai!”

Sir Amig: Pelos deuses! No meio dessa confusão temos uma notícia boa. Finalmente vou ser avô! Muito bem Flecha Ligeira, mostrou porque ganhou este apelido meu rapaz! Mas Princesinha! Você vai sair em campanha assim?”

Marion: “Vou sim pai. Eu sei me cuidar. Sou uma guerreira de Avalon!”

Sir Amig: “Quem sou eu pra palpitar! Sou só um velho que nas horas vagas mata saxões!”

Sir Jakin: “Olha só amigos? Sir Amig está virando um velhinho chorão!”

Sir Amig: “Chorão? Seu guri de mer...”

Sir Dylan: “Pai chega!”

Sir Amig: “E esses cavaleiros negros genro que estão todos falando? Já não bastava um demônio agora você me arruma mais quinze? Quem são esses homens que não mostram o rosto e o que você pretende com eles?”

Sir Enrick: “Serão a própria morte em campo de batalha! Mataremos saxões sem piedade com eles!”

Sir Dalan: “Ouvi dizer Flecha Ligeira que os cristãos de Dinton estão assustados com eles e que alguns pensam em abandonar as suas terras. Vocês acreditam nisso?”

Sir Enrick: “Enquanto eu tiver Padre Carmelo em Dinton tenho certeza que nada disso acontecerá.”

Sir Elad: “Bem senhores! Antes de começarmos! Alguém viu o Bag?”

Depois de um tempo Sir Bag entra afobado só com as placas de baixo da armadura. O peitoral carregado debaixo do braço. Com o cabelo todo espalhado e com as bochechas gordas coradas .

Sir Bag: “Opa, com licença meu Conde! Olá amigos! Compromissos inadiáveis!”

Sir Amig: “Inadiáveis é texugo?”

Sir Bag: “Texugo? Estava negociando uns excedentes de produção do meu feudo!”

Disse o gordo Cavaleiro com orgulho.

Sir Amig: “Pelo menos então pusesse essa cueca nojenta de pele de urso por baixo das calças guri!”

Sir Bag: “Opa! Me dêem um tempinho já volto!”

Ele sai de baixo das risadas de todos. Logo Sir Bag retorna. Então, todos sentam e ficam em silêncio. O Conde Roderick olha por alguns minutos sério para os homens sentados na longa mesa de carvalho.

Conde Roderick: “Cavaleiros e Milaidie! Todos os Condes e Reis da Britânia sabem que o Rei Uther está doente. Dizem que em Tintagel os médicos e curandeiros entram e saem de sua câmara real todo o tempo. Logres está enfraquecida militarmente e politicamente. O pior é que todos os reinos que nos cercam sabem disso.”

Sir Amig: “E isso significa que os chacais estão prontos para aboncar sua porção de carne.”

Conde Roderick: “Exato Amig. Senhores! Estamos de acordo com que temos que fazer no norte. E eu irei junto! Com a autorização ou não do Rei.

Sir Amig: “Mas Conde!”

Conde Roderick: “Eu já falei Sir Amig, não quero mais ouvir um pio à respeito de minha segurança. É um ultraje esse bárbaros desgraçados estarem aterrorizando o nosso povo e terem, sabe deus feito o que, com a família de Sir Enrick. Temos que fazer alguma coisa e rápido. Todos estão de acordo?”

Todos concordam afirmativamente com um aceno de cabeça.

Conde Roderick: “Primeiro o mais urgente. Vamos até Epona e ver o que ocorreu por lá. Depois seguiremos até Eburacum no norte, para falarmos com o Rei de Malahaut. O Rei Barant de Apres. Será uma longa jornada. Então dêem as ordens aos seus homens! Saibam que o inimigo deve estar infestando tudo por todo o caminho e preparem-se para o pior! Amanhã aos primeiros raios de sol estaremos na estrada. Acredito que no meio da tarde chegaremos nas terras dos Stanpid!”

VIAGEM ATÉ A FAZENDA DOS STANPIDS:

Todos dormem no salão do Castelo de Sarum. Sir Enrick, antes de partir, recebe do ferreiro do Conde Roderick uma armadura, toda negra, com caveiras no ombro e um grande elmo em forma de cabeça de cavalo com dois rubis vermelhos como olhos. No peitoral o seu brasão gravado com fios dourados. Flecha Ligeira enrola panos negros no rosto, ocultando a sua face, e monta em Hefesto. Calado se posiciona à frente do Esquadrão da Morte à Cavalo.

Na Alvorada a pequena foça formada por quatrocentos soldados parte para leste na estrada Romana. Tudo está deserto. A distância, os Cavaleiros da Morte, os acompanham. Padre Carmelo em seu pônei viaja próximo. Ele vai cantando tranquilamente enquanto o dia passa. Os soldados vão rindo com as letras que o Padre vai criando e deixando toda tropa de bom humor.

Padre Carmelo: “Dalan meu filho! Me acompanhe nesse seu Alaúde!”

Música:

“Se o Pictus usam saia
E os Irlandeses são bêbados e tontos
Os Francos gostam de homem
E os de Wells tem fama de corno
E o pobre saxão
Não há ninguém que me esclareça
Porque os desgraçados
Não tem miolos na cabeça.

Se eles cortam os pescoços
De uns infelizes agora
É pra tentar roubar pra eles
Um cérebro maior que uma amora
Me contaram uma vez
Que colocarão um saxão num cavalo
Mas para o nosso espanto
A montaria que subiu no bárbaro

Se o Pictus usam saia
E os Irlandeses são bêbados e tontos
Os Francos gostam de homem
E os de Wells tem fama de corno
E o pobre saxão
Não há ninguém que me esclareça
Porque os desgraçados
Não tem miolos na cabeça.

Vocês perceberam
Que eu não falei dos Romanos
Só porque tem o nariz empinado
E adotam meninos como namorado”

Oswalt: “Porque está todo animado Padre? Estamos indo para guerra!”

Padre Carmelo: “Por isso mesmo garoto! Aliviando as almas e animando aqueles que precisam enfrentar o pior! Sempre com a graça de Deus, com o perdão do trocadilho.”

Sir Dalan: “Esta época do ano as estradas reais deveriam estar cheias de mercadores. Nem os mendigos estão se arriscando a andar por aí.”

Sir Bag: “E esses Cavaleiros, Enrick ? Credo, parecem ter saído do inferno! Já tenho medo dos meninos, agora então desses aí cruz credo. Esses dias minha mãe me acordou porque estava berrando. Eu estava sonhando com esses seus arqueiros. Eles estavam dançando ao meu redor enquanto eu engasgava com um pernil de Javali em uma floresta escura. Tá louco”

Padre Carmelo: “Quem sabe eles não tenham saído do inferno mesmo meu filho!”

E os heróis reparam um sorriso maroto no canto da boca de Carmelo. Após a metade do dia eles entram na floresta. O lugar tem árvores altas de troncos largos. A umidade é alta e o barro enche os paralelepípedos da estrada real. Pouca luz entra, mas o grupo pode ver entre as copas o céu azul. A velha estrada serpenteia, sobe e desce em alguns trechos até que passa pelo riacho com a ponte de pedra e deixa para trás a mata. Aos poucos eles se aproximam do Haras. Até que, finalmente, do alto de uma pequena colina eles conseguem ver as cercas de madeira quebradas e o campo enorme de grama alta, sem ser aparada há meses, do Haras Stanpid. Sir Enrick, mais uma vez, sente o cheiro da terra onde nasceu.

Dali, Sir Enrick encara a realidade e as suas esperanças começam a se dissipar. A grande casa, as estrebarias, a pequena vila dos capatazes e a igreja estão em escombros. As estruturas enegrecidas e a maior parte das construções desabaram transformadas em carvão pelo fogo. O Flecha Ligeira segue sozinho até a entrada do Haras. A placa em forma de escudo com o cavalo empinado está caída no começo da estradinha de terra que levava até a casa principal. O Cavaleiro junta o escudo e o pendura novamente na corrente que a sustentava em uma viga acima do portão.

Ali está tudo deserto. Só se ouve o som dos pássaros cantando e do vento soprando no pasto com o capim bem alto. Os escombros das construções de madeira carbonizadas e as vigas atravessadas, caídas, dão um toque triste ao cenário de desolação. Da vila da fazenda só sobraram as paredes de pedra das casinhas dos aldeões. Dos estábulos e da grande casa só sobraram cinzas.

Na cabeça de Sir Enrick só lhe passa o pensamento de que poderia ter voltado antes para casa. Algar e Marion entram na propriedade enquanto o resto do exército aguarda. Caminhando pela relva próxima a grande casa o Barão pisa em algo.

Barão Algar: “Vejam, são ossos!”

Enrick os examina ansioso.

Sir Enrick: “São os cachorros! Os que me acompanhavam em minhas caçadas! Desgraçado!”

Marion mais à frente os chama.

Marion: “Tem ossos de cavalos aqui! Uma porção deles! Pelo menos dez animais.”

Sir Amig e Conde Roderick se aproximam montados.

Sir Amig: “Eles sacrificam os cavalos para Wotan filho!”

Marion caminha mais um pouco e afasta a relva do piquet, o círculo onde se treinava os cavalos. Ela solta um grito.

Marion: “São ossos humanos Enrick!”

O Flecha ligeira se aproxima, abaixa-se e começa a examiná-los.

Sir Enrick: “Pelos dentes e o desgaste, são os ossos de pessoas velhas. Os pequenos são esqueletos de crianças de uns três verões de idade. Umas quinze almas foram assassinadas aqui.”

Sir Amig: “Sinto muito garoto! Parecem que levaram todos os outros e roubaram os cavalos!”

Conde Roderick: “Infelizmente vamos ter que ir Sir Enrick. Não há mais nada para ver aqui. Gostaria de fazer alguma coisa antes de partir?”

Sir Enrick vai até as ruínas da grande casa se ajoelha e afasta os panos negros que lhe cobrem a face.
Sir Enrick: “Se existe um deus ou deuses sobe o céu. Acima dos homens. Eu lhes imploro pelo martelo e pela cruz que me protejam. Que me levem aos que eu amo. Que a verdade e o bem vençam.”

Então o flecha ligeira sobe em Hefesto. Novamente oculta a sua face. Pega um crânio de cavalo e o coloca acima de seu estandarte. Despeja de seu alforje, nas órbitas vazias da caveira, o óleo grego e ateia fogo com a sua pederneira. Então espora seu cavalo. Hefesto corre levantando tufos de grama e ao redor da cerca caída Sir Enrick grita em meio a fumaça de seu estandarte macabro. Tão forte que a voz cheia de dor e ódio enche a planície. O exército, assistindo a cena, sente a força do Cavaleiro Negro e Sir Enrick mergulha nas profundezas de sua alma ferida.

Dia 1:

Então, a força deixa a fazenda Epona. Para trás aos poucos ela some no horizonte junto com as lembranças do Flecha Ligeira. No meio da tarde eles passam por algumas aldeias. As casas de pedra tem as paredes chamuscadas. Alguns aldeões martelam e trabalham concertando os telhados e os cobrindo com palha. Quando escutam o som dos cavalos e vem o Esquadrão da Morte eles se assustam e largam as ferramentas. Alguns correm sumindo por entre as casas. Dois deles ficam em cima do telhado de uma das casas em reparos.

Aldeão: “Meu deus senhor! Achamos que eram os saxões! Vimos esses cavaleiros negros que os acompanham! Deus tenha piedade de nossos inimigos. Os bárbaros vieram no inverno mestres! Há algumas luas atrás, tocando tambores e batendo nos escudos. Atacaram tudo que viam pela frente. Alguns usavam cavalos. Mataram os velhos e as crianças que não podiam andar sozinhas. Levaram as crianças maiores como escravos. Violaram as mulheres e também as levaram. Queimaram as casas também. Quem os liderava era um guerreiro forte e alto. Tinham cabelos longos ruivos crespos e barba cobrindo todo o rosto. Usava cota de malha e um elmo, em formato de um rosto frio e assustador, que cobria toda a sua face. Ele levava um machado de duas faces com o cabo de osso esculpido com lobos. Saquearam toda a nossa colheita. Levaram os animais. Alguns de nós correram para a mata e conseguiram se salvar. Vivemos com medo! Não sabemos quando eles voltarão!”

Barão Algar: “Não voltarão aldeões! Fiquem calmos! Baniremos esses idiotas pra fora de nossas fronteiras!”

Seguindo viagem a pequena força passa pela cidade de Levcomagus, o nome romano da cidade que nos últimos anos passou a ser chamada pelo celtas de Camelot. Agora o lugar está decadente. Pelo portão todos podem ver as várias casas e vielas estreitas. Um castelo ergue-se à oeste, em uma colina, dentro da cidade. E ao lado existe um coliseu aparecendo as primeiras rachaduras e pedaços quebrados. Foi aqui que Sir Enrick foi sagrado Cavaleiro e conheceu Lady Marion. Aqui, também, Algar ganhou no torneio de justas o título de Barão. Os soldados em cima da muralha ficam em alerta. Mas quando reconhecem os brasões gritam empolgados.

Soldados: “Graças aos Deuses! Ajuda! Finalmente mestres! Esse lugar foi atacado mais de três vezes. Perdemos mais da metade da população e estamos tentando aguentar ao máximo!”

Conde Roderick: “Força homens! Faremos o máximo para mantermos esses desgraçados afastados!”

Ao anoitecer o exército entra no ducado de Ulfius e chegam à Silchester. A cidade é murada e também era romana. É a noite e somente os nobres tem permissão para entrar. Sir Enrick, sem dar uma palavra, oculto pelo manto negro, dirige-se ao pequeno coliseu ao lado da cidade junto com os Esquadrão da Morte à Cavalo. Os soldados e escudeiros acampam fora das muralhas. Quando os outros Cavaleiros seguindo o Conde Roderick entram pelos portões da cidade, percebem as ruas feitas de grandes pedras perfeitamente planas e as construções e esculturas de deuses antigos. Elas são grandiosas. Ninguém mais tem idéia como os romanos fizeram coisas tão grandes e perfeitas. Mas eles percebem, também, que tudo está envelhecido e descorando, sendo remendado com barro e palha.

Conde Ulfius, no palácio cheio de colunas e mármore manchado e quebrado, recebe os homens de Salisbury para um banquete num destes salões cheios de colunas com termas, espreguiçadeiras e uma mesa longa. Alguns bardos tocam enquanto vinhos, uvas e bolos de carne temperados e assados são servidos. No teto existe uma pintura do que era uma espécie de meio homem e meio boi descorada e descascada.

Duque Ulfius: “Seja bem vindo Conde Roderick! Embora tenhamos nossas desavenças lhe ofereço minha hospitalidade!”

Conde Roderick: “E eu a aceito, obrigado Duque!”

Duque Ulfius: “Fiquem à vontade! Podem aproveitar as termas e a comida que já está sendo preparada!”

Sir Bag já vai ficando só com a roupa de baixo e pula fazendo uma bomba na água. Molhando todo mundo. Ulfius sacode a cabeça com uma expressão de espanto.

Conde Roderick: “Com licença! Terei que me retirar para repousar. A idade anda cobrando seus tributos quando faço longas cavalgadas.”

Duque Ulfius: “Me diga Barão. O que os trazem as nossas muralhas?”

Barão Algar: “Estamos escoltando o Conde até o norte para fazermos alianças contra os bárbaros e tentando achar a família de Sir Enrick. O Flecha Ligeiria teve todos o seus irmãos, Pai e Mãe levados pelo inimigo.”

Duque Ulfius: “Entendo, nós também tivemos problema! Passamos trancados o outono e todo o inverno. Foi antes das grandes nevascas. Eles vieram com tudo. Era o Rei Octa! Eles nos jurou vingança aquela noite no banquete de vitória em Lindsey depois que Gorlois o humilhou, lembram?”

Sir Amig: “Eu disse que mijar no inimigo não era uma coisa boa de se fazer.”

Duque Ulfius: “Pois é Amig. Octa atacou tudo que podia, o mais rápido possível. Tentou erguer um cerco mas o frio veio e ele foi pra o norte com centenas de aldeões escravizados e uma tropa enorme de cavalos roubados. E o Rei Uther? Como está?”

Barão Algar: “Nada bem! Soubemos que está doente. Mas não os vemos há muito tempo.”
Duque Ulfius: “Não foi Vossa Majestade que os enviou?”

Barão Algar: “Na verdade só temos seguido as ordens do Conde. Não sei se o que estamos fazendo foi ordem do rei ou não.”

Duque Ulfius: “Igraine realmente não tem sido a rainha que esperávamos! Parece que o nosso mundo está desabando! Não sei se Logres resistirá muito tempo.”

Sir Bag, Sir Jakin, Sir Dylan divertem-se nas termas. Enquanto Sir Dalan some com uma bonita serviçal de túnica romana. Sir Amig e o Conde Ulfius ficam bebendo lembrando das campanhas antigas e falando e especulando sobre o que ocorre com o Rei Uther.

Fora da cidade Sir Verius e Sir Alein acompanham Lady Marion, preocupados com o silencio de Sir Enrick, e dirigem-se ao coliseu escuro ao lado das muralhas de Silchester. Algar também vai até lá. Mas antes de sair assiste Urco, o Rotwailler, pular na água e brincar com Bag. O duque Ulfius fica chocado com a falta de civilidade do Cavaleiro.

Sir Verius, Marion, Sir Alain e o Barão Algar conversam nas arquibancadas, iluminadas pela lua cheia, da antiga arena. Enquanto Sir Enrick de pé gira dois martelos. Golpeia o ar. Gira e grita. O Esquadrão de Cavaleiros vestindo negro fazem um círculo ao redor do Flecha Ligeira.

Sir Verius: “Odeio Romanos! Só são os antigos invasores. Não diferem nada dos saxões!”

Marion: “São uns frescos que se acham melhor que nós!”

Sir Verius: “É verdade. É só ver esses dois. Roderick, um celta, e Ulfius, um Romano, apenas se suportam. As casas dos dois nunca se deram bem desde que o Conde desposou Ellen que era prometida do irmão de Ulfius.”

Sir Alein: “Soube que a corte de Uther está cada vez mais cristã! É verdade?”

Barão Algar: “É a mais pura verdade.”

Sir Alein: “Mas qual seria o motivo? Ele sempre foi tolerante com as duas crenças.”

Marion: “A rainha é uma mulher completamente angustiada e aflita e busca ajuda nos deuses errados para conseguir resolver os seus problemas.”

Sir Verius: “Não sei. Merlim sendo caçado! Uther perdido entre a Deusa e Cristo. Ninguém serve à dois senhores. Vejam os romanos, quando se converteram caíram. O Pai de Uther, Constantino já era assim.”

Então Sir Enrick fica enlouquecido.

Sir Enrick: “Provem Cavaleiros Negros que são fiéis. Me mostrem que são valorosos! Sejam homens! Me ataquem!”

Nenhum Cavaleiro Negro move um músculo. Marion e Algar assistem chocados a cena. Um deles, trouxe um crânio humano do Haras dos Stanpid, cerrou a caveira e a usa como uma máscara enrolada pelos panos negros. E é esse que Sir Enrick, girando os dois martelos, ataca. O Cavaleiro Negro desvia o primeiro golpe. Sir Enrick tenta mais uma vez e acerta em cheio o rosto encoberto do homem que cai inconsciente.

Sir Enrick: “Mais alguém? Sejam homens e me ataquem. Agora!”

Então, todos os homens no círculo pegam as suas armas e colocam na vertical apoiadas na areia e se ajoelham. O Cavaleiro Negro, que veste o rosto de caveira, meio atordoado, faz o mesmo gesto. Sir Enrick os olha cheio de orgulho e satisfação e sai do coliseu sumindo na escuridão da noite.

Dia 2:

Pela manhã, o exército de Salisbury, segue viajem sobe os olhos dos soldados romanos. As montanhas erguem-se altas do lado direito. Tudo continua deserto. Eles ouvem os pássaros e o som da marcha dos soldados no paralelepípedo desgastado da antiga estrada. Logo o castelo de madeira da cidade de Donnington surge no horizonte. Ao longo do caminho as pequenas vilas estão destruídas. Existem esqueletos humanos e corpos desidratados, por terem sido congelados nas nevascas de inverno e descongelados no início da primavera. Eles estão amarrados pelos pulsos e as mãos para trás. As costelas e crânios rachados, provavelmente feitos por golpes pesados de machados e martelos. Alguns Padres caminham por entre os escombros juntando os corpos e enterrando-os com a ajuda de alguns aldeões em uma cova coletiva.

Padre: “Deus os abençoe cavaleiros do Rei! Que tragédia, que tragédia! Há morte por todo o lugar. Famílias destruídas. Pelo menos estas almas terão um enterro digno. O Regente de Donnington fugiu antes de sermos atacados. Levou todo o seu tesouro. Saíram em carroças acompanhados por seus cavaleiros. Não adiantou nada. Enquanto rumavam para o Sul perto de Sussex foram atacados, sequestrados e seus Cavaleiros mortos. Uma centena de cavalos maravilhosos passaram por aqui levados pelos bárbaros e uns cinquenta escravos amarrados as mãos uns nos outros sobe o chicote. Tinham uma carroça cheia de prata e ouro.”

Como corvos o Esquadrão da Morte à Cavalo vai até os corpos e os vasculham como corvos.

Sir Enrick: “Peguem as cabeças destes coitados!”

Os padres assustados não dizem nada enquanto os Cavaleiros negros recolhem os crânios. Finalmente, a força chega as cercanias de Donnington. A cidade é cercada por uma paliçada com um Motte and Bailey. Alguns homens concertam a alta cerca usando barro e palha. Mais da metade dela está derrubada e lá dentro tudo também foi queimado e saqueado.

Conde Roderick: “Levantar acampamento!”

Depois das tendas preparadas os escudeiros fazem as suas tarefas. Oswalt escova os cavalos. Syan está cuidando de cada pena de ganso das flechas e afiando as pontas de ferro. Claudas afia e seca as lâminas de suas armas. Os martelos de Sir Enrick são equilibrados com pesos em seus cabos e o couro da empunhadura é apertado para dar um gripping seguro em combate.

Oswalt: “Barão? Nunca te perguntei. Como foi matar um homem pela primeira vez?”

Barão Algar: “Foi defendendo o forte Vagon. Existia um Cavaleiro que teve as suas mãos pregadas na paliçada que defendia o lugar. E dois saxões o torturavam e riam do pobre homem. Saímos da mata próximo e deixamos o aço matar os homens. Eles nem viram o que aconteceu. Mas saiba que tirar a vida de alguém, mesmo seu pior inimigo, não é bom!”

Oswalt: “Comigo vai ser diferente! Mataria um saxão e cuspiria na cara dele depois de morto. Como se fosse um boneco de palha que Wistan usa para nos treinar.”

Barão Algar: “As coisas na prática são bem diferentes do que na teoria garoto. Esteja pronto para o momento que ocorrer. Porque nada do que você imaginar poderá te preparar para isso.”

A noite cai e a madrugada passa sem nenhum incidente. Eles dormem tranquilos no grande pavilhão de campanha do Algar. O laranja com o lobo atacando os saxões. Pela manhã o acampamento acorda com o cheiro de linguiças de porco assadas no braseiro pelos escudeiros, na frente da tenda.

Dia 3:

Seguindo viagem no dia seguinte o Sol brilha sem nuvens no céu azul. As colinas à frente são bem verdejantes. Eles sobem a estrada antiga feita pelos romanos. Do topo de uma delas eles vêem o desenho, feito em pedra calcária, de um cavalo enorme no topo de outro monte.

Marion: “O Cavalo da Deusa Epona! Está aqui desde tempos imemoriais. Em tempos esquecidos, quando era rainha, deitou-se ali quando o seu filho foi coroado rei pelas fadas e pelos pictus.

Ao anoitecer eles acampam logo após a colina do Cavalo Branco próximo a cidade de Wandborough. Os Cavaleiros da Morte estão sempre ao longe. A cidade sem muros simplesmente não existe mais. Uma centena de casas e as várias tavernas e estalagens, pois a cidade era uma tradicional parada pra os viajantes da estrada real, estão destruídas. Existem várias gaiolas de ferro, pelo menos dez, penduradas rangendo com o vento e com corpos em pele e ossos se decompondo em seu anterior. As vítimas, agora mumificadas pelo congelamento, parecem terem sido deixadas para morrerem de fome e frio no início do inverno passado.

Caminhando por entre os mortos Sir Enrick percebe um homem no interior de uma delas. O morto tem um cavalo tatuado no ombro. A múmia com a boca aberta e os cabelos longos já não tem olhos e sua cor é marrom. A pele está esticada sobe os ossos. Olhando atento Sir Enrick percebe que o homem não tem um dos dedos e tem uma cicatriz no rosto. Sem dúvida era o capataz Cinnor que trabalhava para o pai do Flecha Ligeira desde que ele era criança. Sir Enrick arromba a gaiola de ferro e enterra com lágrima nos olhos o corpo do homem que um dia admirou.

O acampamento é levantado no vale, para se protegerem dos ventos. Os Cavaleiros conversam ao redor da fogueira. O Conde Roderick parece bem preocupado com o que está vendo e retira-se cedo para a sua tenda.

Sir Alain: “Parece que o inimigo espalhou o terror por todo o Reino. Poucos sobreviveram! As cidade que não tem muros e as vilas não tiveram a mínima chance. Viram a cara do Duque Ulfius? Parecia assustado.”

Sir Amig: “Esses pobre coitados. Queimados! Torturados! Nem esperavam serem atacados. Os saxões nunca foram tão longe com uma força desse tamanho. A corte do nosso rei no oeste e a notícia de que Uther está doente os encorajou a nos atacar.”

Sir Verius: “Me digam Algar e Enrick! Vocês estavam lá quando Gorlois e Igraine deixaram a corte do Rei e Uther ficou louco por isso. É verdade que os homens do Conde da Cornualha mataram os pagens reais, roubaram tesouro e fugiram naquela noite que o Rei declarou guerra à Cornualha?”

Barão Algar: “Nunca vimos nada disso por lá! Acho que são desculpas e boatos para justificar a guerra que tivemos na Cornualha.”

Sir Verius: “E Madoc o que achava disso tudo?”

Marion: “Achava que seu pai tinha enlouquecido. Que era errado lutar por um desejo de ter uma mulher em sua cama. Muito Lordes pensaram assim e não nos acompanharam em campanha. E é por isso que o Príncipe está morto.”

Sir Dylan: “E a rainha? Como ela é? Dizem que é bonita como uma fada.”

Barão Algar: “A Rainha é uma gostosa!”

Marion: “Algar!”

Eles riem enquanto o Cavaleiros negros e Sir Enrick ficam silenciosos observando à distância. Então, todos vão se deitar. Está tudo em silêncio e calmo. Com exceção de Sir Amig, Sir Bag e Algar roncarem como dois leões com asma. E o pior Sir Amig e Sir Bag estão três tendas de distância dali. Até Urco uiva com o barulho que os homens fazem dormindo.

Mas, algo perturba o sono de Sir Enrick. O que parece ser o som de cascos de cavalo. O som inconfundível que o Flecha Ligeira conhece bem. É Hefesto que parece estar andando ao redor do acampamento. O arqueiro, vestindo uma túnica, deixa Marion dormindo e sai da tenda. Ele pode ver a silhueta de Hefesto no alto da colina do Cavalo Branco e um homem alto e forte com cabelos longos vermelhos presos para trás e bigode. Seus músculos são fortes e ele parece todo sujo de fuligem. Ele segura tranquilamente a rédea de Hefesto e parece estar verificando as ferraduras do seu cavalo. Uma tocha fincada ao lado dele ilumina o alto da colina.

Enrick dirige-se para lá. Passa pelos sentinelas.

Sentinela: “Sir Enrick! Hefesto foi sozinho até lá. Ele nunca vai com ninguém se ele não quiser.”

Ao se aproximar do topo da colina Sir Enrick grita.

Sir Enrick: “Com que direito se aproxima de meu cavalo homem?”

Wayland: “Com a permissão da Deusa que dorme abaixo da colina!”

Ele vira para Sir Enrick e parece tranquilo. Tem um martelo em suas mãos e usa um avental de couro.

Wayland: “Boa noite Sir Enrick! Sou Wayland, o ferreiro! Hefesto está precisando trocar suas ferraduras. Posso fazê-lo agora mesmo. São apenas algumas moedas de prata.”

Sir Enrick joga uma moeda de ouro. Wayland olha satisfeito e morde o metal. Depois o guarda em uma algibeira presa ao cinto. Enquanto o homem trabalha ele conversa com o Flecha Ligeira desconfiado.

Wayland: “Não esqueça Flecha Ligeira, esse cavalo não pertence à você. Nunca pertenceu. Pertence a rainha que repousa na colina. Mas você é abençoado por tê-lo. Se ela não quisesse você não o cavalgaria. Um dia você terá que o trazer de volta para casa. Sabe, estou há muito tempo por aqui e vejo muitas coisas. Os irmãos de Hefesto cruzaram estas colinas no início do inverno passado levados por homens cheios de ira e cobiça. Vi seu pai e ele estava vivo! É só seguir em direção a Floresta Campactorentin. Lá o destino lhe indicará o caminho. Um dia precisarei de um favor! Aí você poderá me pagar pelo que lhe disse. Adeus.”

Então Wayland vira as costas e desaparece na escuridão. Hefesto vem lhe pedir carinho. Sir Enrick monta em seu cavalo e percorre as colinas pensando nas coisas que aconteceram e só retorna ao raiar do dia. Quando chega Sir Alain o espera na entrada do acampamento.

Sir Alain: “O que foi Enrick?”

Sir Enrick: “Wayland falou comigo na colina do Cavalo Branco.”

Sir Alain: “Wayland? O ferreiro da colina de Epona. Dizem que ele está desde o início dos tempos enterrado por aqui. Ele cuida dos cavalos dos viajantes. Ele te ajudou?”

Sir Enrick: “Sim, disse que meu pai está vivo e que devemos seguir para a floresta Campactorentin.”

Sir Alain: “Não esqueça que um dia ele vai te cobrar amigo. É assim que funciona. Descanse um pouco. Amanhã será um dia cheio.”

Dia 4:

Então, aos primeiros raios de sol o exército de Salisbury cavalga em direção a floresta, onde a estrada real desaparece na mata, que com o passar do dia vai ficando cada vez mais próxima. No final da tarde com o sol se pondo no horizonte tudo parece calmo. Até que os heróis vêem um movimento na borda da floresta à frente. Alguns reflexos de metal refletindo a luz avermelhada do sol, por um instante, pode ser visto por entre as árvores.

Derrepente gritos quebram o silêncio. Um grupo de cem homens corre lá de dentro a pé com machados, lanças e espadas. Tem escudos redondos e o símbolo do lobo com sangue pingando do Rei Octa pintado neles. Eles vem na direção da tropa do Conde Roderick.

Sir Amig: “Saxões! Armas! Carga! Cavaleiros juntos comigo!”

Dez cavaleiros partem em velocidade pelo descampado em direção a floresta. O Esquadrão da morte à Cavalo vem fazendo uma carga com quinze homens pela esquerda liderados por Sir Enrick. Eles não tem tempo de acender as lâminas das espadas.

Conde Roderick: “Cabeça de porcoooo!”

Então a formação em flecha da cavalaria é feita e eles partem para cima do inimigo. Mas então algo ocorre e uma tempestade de flechas vindo lá de dentro da mata surge e um por um os saxões caem sem vida. O que restou é abalroado por trás por cavalos em formação que saem da mata. Eles fazem uma curva para retornar e uma carga forte atropela e decapita os últimos saxões que tinham sobrevivido. Os Cavaleiros Negros fazem uma curva aberta para o outro lado e somem dentro da floresta. São uns cinquenta Cavaleiros que surgiram vindos de lá. Eles estão com os seus estandartes coloridos próximos a borda da mata bloqueando o caminho. Conde Roderick ergue as mãos e todos param. Os Cavaleiros que vieram da floresta olham por onde o Esquadrão sumiu. Eles parecem incomodados temendo um ataque pela retaguarda.

Conde Roderick: “Os Cavaleiros negros estão conosco, vocês estão cercados! Venham comigo, Sir Enrick, Lady Marion, Si Dalan e Barão Algar. Vamos nos apresentar. Devagar!”

O que parece ser o Comandante dos homens que mataram os saxões grita.

Sir Flannedrius: “Não temos medo de lutar contra um velho Conde e um bando de mortos vivos!”

Os heróis vão trotando em direção a eles. Eles vêem o brasão com o fundo verde e uma lista diagonal branca. Em cima deste fundo, foi bordado um falcão amarelo com as asas abertas. Os homens usam armaduras completas com cotas de malha. O Cavaleiro que está à frente retira o elmo em forma de falcão. É um homem veterano com quase sessenta verões. Ele olha pra os heróis sério enquanto apeia.

Conde Roderick: “Desçam vocês também e venham! Olhos abertos!”

Sir Flannedrius: “Vejo que o Barão não reconhece mais o melhor Cavaleiro dos Herlews! Dêem um abraço aqui no velho tio Flannedrius Algar!”

Barão Algar: “Tio é você? Não acredito!”

Sir Flannedrius: “Soube dos seus feitos sobrinho e estou muito orgulhoso! Sejam bem vindos a minhas terras.”

Conde Roderick: “Como vai velho falcão?”

Sir Flannedrius: “Demos um susto nos garotos, não é?”

Sir Dalan abraça o seu tio também.

Sir Flannedrius: “Galardoum, seu primo, que vocês não vêem desde criança, nos está aguardando em Cirencester. Sigamos em frente junto homens!”

Conde Roderick: “Será um prazer velho amigo!”

Os soldados tensos pela expectativa de um combate, ficam aliviados e riem. Então o exército segue cavalgando e entra na floresta úmida de Campactorentin. Sempre seguindo na vanguarda os heróis. Na segunda linha vão os arqueiros. E a linha dupla dos infantes os seguem marchando. Lá na retaguarda seguem Sir Bag, Sir Dylan, Sir Jakin, Sir Verius e Sir Alain para se precaverem de um ataque surpresa pelas costas. Urco nunca abandona o seu dono e caminha ao lado do pônei de Verius. Ao redor da coluna em marcha cavalgam os cinquenta Cavaleiros de Sir Flannedrius olhando e vigiando a floresta, sempre em alerta e seus arqueiros a pé sempre com as flechas encaixadas no arco. Os Cavaleiros de Enrick, todos vestindo negro, com o rosto coberto, com cavalos da mesma cor e o estandarte com caveiras eqüinas cavalgam à distância por entre a mata.

Sir Flannedrius: “Quem são esses Cavaleiros Negros, Algar?”

Barão Algar: “São os homens de Sir Enrick. Eles está os liderando. Está em busca de sua família sequestrada pelo inimigo.”

Sir Flannedrius: “Ah, é o Flecha Ligeira? Os bardos tem cantado entre os plebeus sobre esse rapaz! Como ele se sagrou cavaleiro sendo um simples criador de cavalos?”

Barão Algar: “Um Cavaleiro bem velho o ajudou!”

Sir Amig: “Não era tão velho!”

Barão Algar: “E aí, enganou o Rei, pois o homem era um plebeu participando disfarçado de um torneio de arqueiros nobres. Então para resolver o impasse, com a idéia de Madoc e esse cavaleiro que lhe falei, não é Sir Amig? O bom Rei Uther deu esse fardo ao arqueiro ali e o sagrou cavaleiro.”

Sir Flannedrius: “Que bela estória! Tempos de paz aqueles! E esta é a famosa Marion? É uma honra Milaidie! Sua fama lhe precede senhora!”

Marion: “Obrigada senhor!”

Sir Flannedrius: “Sabem, estivemos perseguindo bandos de saxões desde o início da primavera limpando a floresta. Agora os aldeões podem começar a reconstruírem as vilas e aqueles que sobreviveram voltar para as suas casas. Mais ainda os caminhos não estão seguros. Se o inimigo juntar uma força um pouco maior da que nos atacou não sei se resistiremos muito tempo.”

Eles passam por uma área na floresta com dez corpos de Padres e Freiras enforcados nos carvalhos. Logo à frente mais mortes. Três druidas decapitados.

Sir Flannedrius: “São os primeiros a serem mortos. Sacrifícios aos deuses dos bárbaros.”

Eles chegam ao anoitecer na pequena Cirencester que está sendo reconstruída. Quando descem do cavalo Sir. Galardoum, um cavaleiro loiro com cabelos longos e olhos verdes, sem barba se aproxima vestido com sua armadura completa prateada. No peitoral um crucifixo dourado gravado no centro brilha com as luzes das tochas espalhadas pela cidade. São Jorge está pintado em seu escudo.

Galardoum: “Primos! Quanto tempo! Você cresceu Algar! Dalan como está? Lembra quando Dalan estava beijando a filha do capataz e nós estávamos cuidando do celeiro para ele não ser descoberto? Por um dinar entregamos esse mulherengo. E Dalan ficou tão brabo por ter apanhado de vara de marmelo que disse que ia ter mais mulheres que nós dois juntos a vida inteira.”

Sir Dalan: “E parece que eu consegui seus bostas!”

Galardoum abraça Algar e Dalan cada um de um lado.

Galardoum: “Vamos beber! Família é tudo Primos! São muito bem vindos vocês também! Amigos do meu primo são meus amigos também.”

Ali as casas estão sendo reconstruídas. Algumas já estão prontas. Outras faltando os telhados de palha. O pequeno exército acampa ao redor dali. Já é noite e em um salão que será transformado em uma igreja, eles fazem um banquete com carne de caça de lebres e cidra sentados em tocos de tronco de árvores e comendo em pratos de madeira e bebendo em canecos de cerâmica. Os heróis, os Cavaleiros da Cruz do Martelo, Conde Roderick, Sir Galardoum, Sir Alain, Sir Verius, Urco e Sir Flannedrius estão ali junto com alguns Cavaleiros do Tio de Algar que protegem o lugar.

Sir Flannedrius: “Desculpem a pouca comida e bebida Conde! Mas é o que temos depois dos ataques.”

Conde Roderick: “Não se preocupe, somos gratos a sua hospitalidade.”

Sir Flannedrius: “Como estão Bellias e Briant sobrinho?”

Barão Algar: “Com as velhas desavenças! Mas bem melhor do que antes da guerra que travamos contra Odirsen II.”

Sir Galardoum: “E como foi para eles a perda de Alein primo?”

Barão Algar: “Não foi fácil! Foi uma perda grande para todos. Ele era realmente um paladino da verdade e da justiça.”

Sir Galardoum:“Que tristeza! Um brinde ao Santo Alein! Nós estamos ajudando nosso povo aqui a tentar ter uma vida normal novamente. Não podemos contar com Vossa Majestade para nos proteger. O nosso povo só tem a nós e nós a eles. Nós damos segurança e pagamos para reconstruírem a vila e lhes damos casa e abrigo para as suas famílias. Em troca poderão trabalhar novamente e tentar ser felizes mais uma vez. Esses saxões trouxeram uma onda de terror. Expulsando estes desgraçados da floresta eu perdi mais da metade de meus homens. Eram guerreiros honrados! Fora meus filhos e esposa que estão junto de nosso senhor pelas mãos desses desgraçados. E vocês? O que estão fazendo nesta terra desolada?”

Barão Algar: “Estamos em busca da família de Sir Enrick. Foram raptados pelo inimigo.”

Sir Galardoum: “Rezo para que vocês consigam achar a sua família Sir Enrick! Não esqueça que tudo tem um propósito. Deus tira de um lado e lhe recompensa do outro.”

Sir Enrick com o rosto encoberto só acena positivamente com a cabeça.

Sir Galardoum: “Soube que matou Gorlois primo? Tinha que ser um Herlews, não é? Como foi?”

Barão Algar: “Eu estava em meio a um ataque surpresa que Gorlois fez a nosso acampamento em Terrabill, na Cornualha. Então no meio do caos da batalha vi o desgraçado atacando o finado Príncipe Madoc. Não pensei duas vezes e arremessei minha lança. Foi certeiro! Logo o Duque estava morto.”

Sir Flannedrius: “É assim que se faz sobrinho!”

Sir Galardoum: “Muito bem primo! Aqui nas terras do pai a luta não acaba. Logo depois do inverno o inimigo tentou estabelecer um assentamento no meio da floresta. Atacamos só em duzentos homens, deixamos armadilhas preparadas, ateamos fogo. Sabíamos que todos nós morreríamos, mas levaríamos muitos com a gente. Eram três pra um mas não tínhamos escolha. A fome assolava nossas terras sem ninguém para cultivá-las. Em Sarum ainda tem como comerem e beberem?”

Marion: “Ainda temos uma vida relativamente normal por lá.”

Sir Galardoum: “Vocês sabem que os saxões não reagiram? Tinham muito a perder. Muitos deles atravessavam a floresta em direção ao norte em fuga. Matamos muitos saxões enquanto corriam. Eles não queriam ficar e lutar. Se tivessem feito, talvez tivessem nos matado. Mas fugiram com uma centena de cavalos, uma montanha de coisas de valor e os escravos. Estavam protegendo todo o saque fugindo. Capturamos alguns deles e depois os executamos Mas sabe, tinha um sargento inimigo coberto de ouro nos braços. Ele era tão corajoso que ficou para nos enfrentar com meia dúzia de homens protegendo os que fugiam. Os outros que estavam com ele morreram. Deixamos ele viver e enviamos para Bourton ao norte. Há um dia daqui. Ele deve nos ajudar com informações para capturarmos o inimigo e deve saber alguma coisa sobre a família de Sir Enrick. Lá na cidade eles tem como mantê-lo cativo com relativa segurança. Se ficasse aqui logo eles voltariam para salvá-lo. Ele parecia ser um nobre bárbaro.”

Sir Enrick então retira parte do pano que lhe cobre o rosto e olha esperançoso. Todos ficam em silêncio olhando para o Cavaleiro.

Sir Enrick: “Temos que ir até lá. Acorrentarei o desgraçado em meu cavalo!”

Conde Roderick: “Está feito é pra lá que iremos rapaz!”

Dia 5:

No dia seguinte eles acordam e se despedem.

Sir Flannedrius: “Boa sorte Cavaleiros! Ficaremos aqui protegendo a fronteira do condado e esperamos expulsar esses desgraçados para o norte até o outono! Adeus!”

Então o exército de Salisbury segue para o norte. À direita sempre está a floresta os acompanhando. Dezenas de colinas surgem à frente. O dia começa cinza. Depois venta, troveja e começa a chover.

Sargento Wistan: “Nossos arcos são inúteis debaixo de tanta água! Atenção arqueiros! Guardem suas cordas e usem escudos e espadas curtas.”
Eles viajam o dia inteiro debaixo de chuva e raios. Os cavalos se assustam com os relâmpagos e as carroças encalham com a lama que corre pra cima do paralelepípedo. O exército vence cada quilômetro com dificuldade e lentidão. O cavalo de Sir Bag escorrega e os dois caem. O Cavaleiro rola evitando que o animal caia em cima dele mas machuca o ombro esquerdo e sofre de dor. A clavícula de Bag está deslocada e sem movimento.

Sir Bag: “Droga! Lá se vai o braço do escudo! Maldita estrada romana! Vou precisar de ajuda para colocar no lugar essa porcaria.”

Marion: “Eu te ajudo Bag!”

Sir Bag: “Dêem alguma coisa para eu morder!”

Marion dá um pano para o Cavaleiro colocar entre os dentes. Enrick e Algar seguram o homem. Então Marion olha para Sir Bag tocando em seu ombro.

Marion: “Quando eu contar até três”

Sir Bag: “Está bem menina de ouro.”

Marion: “Um...”

E de surpresa a arqueira dá um tranco no braço de Sir Bag que dá um grunhido, derruba Sir Enrick e Algar. Ele se levanta em frenesi empurra Caulas que cai de traseiro na lama. E dá um soco no ar e mais um. Dalan leva um direto no nariz e cai sentado ao lado do escudeiro. Sir Bag volta a si assustado.

Sir Dalan: “Que droga Bag! Meu nariz!”

Sir Bag: “Pô, Dandan desculpa eu amigo! Foi mal! Mas não é que deu certo menina de ouro! Venha deixe eu te ajudar Dalan.”

Então Bag levanta Dalan da lama no meio da chuva, sobem em seus cavalos e continuam a viagem. Somente tarde da noite Bourton surge à frente. Uma paliçada de madeira escura se ergue ao lado da estrada. Existem torres de arqueiros nos quatro cantos da murada. Um foço foi escavado na terra preta. Em meio a chuva e o escuro da noite eles vêem as lanternas iluminando o alto da muralha de madeira. Desenhado em tinta branca nos muros dá para er o desenho de um búfalo dentro de um escudo. Eles ficam tentando enxergar mais detalhes por entre a chuva grossa.

Conde Roderick: “É o símbolo da guarnição de Oxford. Mas o que eles estão fazendo fora da cidade? Ela fica mais ao leste no meio da floresta!”

Conde Roderick “Vamos Sir Enrick, Barão Algar e Lady Marion, sigam-me!”

Sir Amig: “De jeito nenhum Conde! Não podemos arriscar sua vida! Se acontecer algo ao senhor, o rei nos mata! E estou falando isso de verdade. Já abusamos demais da sorte.”

Conde Roderick: “Droga, negociem a entrada na cidade então. Nós ficaremos aqui. Não posso abandonar o comando de toda a força. Sir Amig você também não vai, preciso que comande os homens, se for necessário, em um ataque surpresa do inimigo. Levantar acampamento. Os outros mantenham-se em alerta.”

Então Enrick, Marion e Algar se aproximam e um chifre é tocado. E os homens na torre coberta preparam os seus arcos para dispararem. O Sargento da paliçada grita.

Sargento da Paliçada: “Parados! Se moverem um músculo estarão mortos! Tenho quatro arqueiros mirando direto para vocês! Quem são e o que querem?”

Barão Algar: “Somos Cavaleiros de Logres! Queremos entrar na cidade em nome do Conde Roderick! Nos levem ao seu comandante. É urgente.”

Sargento da Paliçada: “Aproximem-se do portão principal!”

Então desce a ponte levadiça e quando os heróis chegam no portão de madeira quase negra, com a água escorrendo forte por entre os troncos pontiagudos amarrados, uma pequena janela se abre e um homem com capa e uma lanterna, com a barba por fazer, cego de um olho os observa.

Guardião: “Mostrem o brasão mestres!”

Então eles exibem seus símbolos, que usam bordados nas partes da frente das roupas longas de Cavaleiros, amarradas por um cinto grosso, por cima das cotas de malhas.

Guardião: “O resto dos homens terão que ficar acampados em volta da cidade. Só os senhores poderão entrar. Lhes levarei até o comandante. Agora essa cidade é um forte depois do ataque e da morte dos moradores.”

Cidade Bourton:

Então ele fecha a pequena portinhola e abre a principal. Lá dentro a cidade parece intacta. O velho guardião olha para o alto da torre de madeira e acena com a lanterna. Os arqueiros relaxam suas armas. Os outros homens estão armados na chuva os olhando nas portas das casas curiosos. Os sargentos de cada unidade que estão servindo ali estavam agrupando seus homens, temendo por um ataque surpresa. Eles estão sujos de lama. Com as barbas sem fazer, usam toucas de couro. Alguns elmos pontudos. Vestem luvas de couro e corseletes do mesmo material. Brasões com o búfalo são vestidos por cima das proteções peitorais e amarrados por um cinto de couro das bainhas. Eles ficam encarando os três heróis. Eles conversam enquanto andam pelas ruas enlameadas da cidade.

Guardião: “E vocês mestres, estão fazendo o que por estas bandas?”

Barão Algar: “Queremos falar com o saxão cativo na cidade. Eles nos será útil em nossa missão.”

Guardião: “Bourton foi atacada pelo saxões no início do outono. Depois de matarem, pilharem, divertirem-se com as mulheres e se embebedarem com tudo que tinham na cidade, desceram até Cirencester para estabelecer um assentamento. No meio do inverno foram expulsos novamente. Mas nesse meio tempo os sobreviventes daqui conseguiram pedir ajuda em Oxford e Sir Oswalt, o regente, enviou seus melhores homens para transformarmos a cidade destruída em um forte. Acho que essa é a região mais perigosa de Logres no momento. Na volta aqueles centenas de bárbaros só queriam manter o saque, escravos e os cavalos lindos que tinham roubados não se sabe de quem e passaram pela cidade sem nos importunarem. O comandante não os atacou por causa dos escravos feitos de refém, seria uma carnificina. É aqui! Sigam-me! Quando chegamos na cidade descobrimos que o regente daqui negociava com os saxões. Agora ela está ali para todos verem.”

O guardião ilumina com a lanterna e eles vêem uma casa grande de madeira. Na frente o cadáver putrefato de um homem com vestes nobres rasgadas pendurado em uma forca.

Barão Algar: “Vocês podem ter problemas com o Rei por ter enforcado um nobre!”

Guardião: “Ordens do novo Regente meu senhor!”

Eles sobem a escada de madeira e entram no salão convertido em sala de audiências. Estão encharcados. Num trono de madeira com encosto de couro um Cavaleiro de uns quarenta verões de idade está sentado. Os heróis percebem que ele não tem uma das mãos e metade de seu rosto é queimado, sem cabelos e cheio de cicatrizes. Cinco soldados com armaduras completas e lanças ficam ao redor do salão.

Guardião: “Homens do Conde Roderick! Comandante Medrod! Estão aqui por causa do estrume saxão!”

Sir Medrod: “Sejam bem vindos a Nova Oxford meus senhores!”

Barão Algar: “Precisamos falar com o saxão. Estamos atrás da família deste Cavaleiro aqui e precisamos de sua assistência.”

Sir Medrod: “Sei, vocês tem autorização do rei?”

Barão Algar: “Não temos senhor.”

Sir Medrod: “Então nada feito. Eu não os convidei até aqui e não vou admitir alguém atrapalhando o trabalho que estamos fazendo. Viemos de Oxford, achamos esta cidade totalmente destruída e a reconstruímos. Cercamos e a usamos como posto avançado. Nenhum inimigo passará aqui sem lutar conosco porque somos uma barreira para que os saxões não cheguem em Oxford. O inimigo levaria uma eternidade caminhando pela floresta e seria obrigado a usar a estrada e passar por aqui. Ficando nesse lugar garantimos que nossas famílias continuem vivas em Oxford. ”

Sir Enrick: “Mas não existe outro jeito! Precisamos falar com o desgraçado e achar o meu pai. Ponha a mão na consciência homem!”

Sir Medrod: “Vocês sabiam que tudo isso que aconteceu com metade de meu corpo foi lutando contra esses desgraçados? E esse filho da puta que guardamos aqui é a nossa única fonte de informação sobre o inimigo. Se a informação vazar de que estamos com ele o inimigo pode tentar o resgatar e seria o nosso fim, o fim de Logres e de tudo até a costa no Sul. Seríamos anexados por Sussex. Sabiam que este escroto que tenho aqui é um dos filhos do Rei Octa? E vocês ainda por cima, com meus homens presos aqui há dois meses, com que direito trazem uma mulher aqui pra dentro!”

Marion: “Com o direito de ser uma guerreira e arqueira que protege o seu povo como qualquer um de vocês!”
Sir Medrod: “Onde estão os culhões dos homens de Sarum? Precisam de garotas para dizerem o que devem fazer?”

Sir Enrick: “É a minha esposa homem. Dobre a língua para falar dela!”

Sir Medrod: “Pois bem marido da arqueira! Terá que me convencer!”

Sir Enrick: “Falaremos com o prisioneiro. Não o tocaremos. Só negociaremos com o maldito e iremos embora o mais rápido possível.”

Sir Medrod: “Droga! Guardião! Leve estes homens até Beorthric. Leve o tradutor com você. Mas não toquem no desgraçado do saxão de maneira nenhuma! Depois escoltem esses homens de Roderick para fora daqui o mais rápido possível! Passar bem senhores! Tenho terras para defender!”

Então eles saem na chuva grossa. Muitos raios caem. Um garoto, chamado em uma casa pequena de madeira, se junta ao grupo. Parece ser um aldeão. Neste momento passam por uma parte da cidade toda destruída cheia de ratos que correm da luz da lanterna que teima em se apagar e da água que correm por seus pés. Passam por uma área cheia de dejetos humanos até que chegam na única construção de pedra que ficou de pé nesta área da cidade. Uma torre no meio do barro, da bosta e da água que se acumula em poças ao redor no escuro da noite. O cheiro de podridão é forte. Dois guardas com lanças e cotas de malha com o brasão de búfalo por cima tomam conta da porta. Ele batem as lanças e se pões de lado enquanto o guardião abre a porta com uma grande chave.

Sir Enrick: “Esperem aqui! Eu volto em breve.”

Então o Flecha Ligeira entra na torre pela porta pesada de ferro. A parte debaixo está vazia cheia de teias de aranha. Só a lanterna de óleo ilumina a escada em caracol de madeira. O garoto tradutor e Sir Enrick sobem e lá no alto chegam em uma sala. Metade dela é gradeada. Sir Enrick ilumina um homem mal trapilho jogado no chão de madeira e palha cheio de excrementos e mijo. Seus cabelos estão compridos, duros e a barba cheia de piolhos. Seu rosto está encardido. Está descalço e as roupas em frangalhos. Ele cospe e fala algo ríspido.

Beorthric: “Fuck you!”

Tradutor: “Acho que não preciso traduzir isso senhor!”

Beorthric: “I won´t say anything! I´ve told everything for you comander!”

Tradutor: “Ele disse que já falou tudo que tinha para falar ao comandante de vocês!”

Então ele olha para o anel de Sir Enrick. Ele levanta segurando na grade de sua cela com os olhos espantados enquanto o trovão cai lá fora iluminando por alguns momentos o interior do lugar.

Beorthric: “Horsa? Where Did you get this ring?”

Tradutor: “Ele disse: Horsa? E perguntou onde o senhor conseguiu esse anel.”

Beorthric: “You look like the Horse's Sorcerer!”

Tradutor: “Ele diz que o senhor parece o Encantador de Cavalos.”

Beorthric: “Are you sun of him?”

Tradutor: “Ele perguntou se o senhor é o filho dele?”

Sir Enrick: “Diga que sou e que vim saber onde o Encantador está. E que se ele não responder algo muito ruim pode acontecer.”

Beorthric: “I will tell you where your father is. But I want this enchanted ring, sun of Horsa!”

Tradutor: “Ele lhe contará onde está seu pai mas ele quer esse seu anel encantado. E te chamou de: O Filho de Horsa!”

Sir Enrick: “Nunca desgraçado! Você está pedindo algo muito valioso pra mim.”

Então o saxão vai para o canto da cela. Sir Enrick encolerizado bate na grade e grita. O homem se encolhe. Enrick frustrado e com raiva diz.

Sir Enrick: “Diga que aceito a proposta!”

Sir Enrick retira o anel de ouro com o cavalo empinado de seu dedo e coloca na palma de sua mão. Então o filho de Octa conta onde está o pai do Flecha Ligeria.

Beorthric: “They've escaped to another settlement. The Big one, inside of the Sauvage Forest, in Kineton on the north nearby the roman road. The Horse's sorcered is there. Now, give me this sacred ring!”

Tradutor: “Ele disse que eles escaparam para outro assentamento. O maior. Dentro da floresta Sauvage na cidade de Kineton mais ao norte. Disse que o encantador de cavalos está lá com eles e pediu o anel!”

Sir Enrick: “Pois não darei desgraçado!”

O Flecha Ligeiria coloca o anel em seu dedo novamente. O saxão fica louco se pendurando nas grades. O garoto tradutor treme de medo. O bárbaro grita com os olhos abertos e a boca com bafo cheia de dentes amarelados agitando o seu cabelo seboso.

Beorthric: “I course you and your friends! Betrayer! Bastard! One between your friends will fall in battle and will die. The Horsa, the god of horses gonna get you! I course you son of gods!

Tradutor: “Ele disse que amaldiçoa você e seus amigos meu senhor. Que são traidores e que um de vocês cairá em batalha e morrerá. Ele disse: Horsa, o deus dos cavalos, irá cobrar de vocês por essa traição! Eu o amaldiçoo filho dos deuses!”

Então Enrick, com ódio nos olhos, retira o anel de seu dedo. Coloca no chão do lado de fora da cela longe do alcance das mãos do saxão.

Sir Enrick: “Vejamos o que os deuses irão determinar. Deixemos que as fiandeiras decidam se um dia o anel voltará para as minhas mãos ou pertencerá à você.”

Beorthric estica a sua mão em direção ao anel e fica maravilhado olhando. Seus olhos brilham. Parece que Beorthric fica hipnotizado pela jóia com os olhos abertos e a boca, com bafo mal cheiroso, cheia de dentes amarelados e com o seu cabelo seboso cobrindo o rosto tentando alcançar o alvo de sua cobiça. Então, Sir Enrick deixa a torre.

Barão Algar: “Conseguiu algo Flecha Ligeira?”

Sir Enrick: “Sim, vamos para Kineton! O meu pai está lá!”

Eles passam novamente pela chuva grossa que cai. Pisando naquela área suja mais ratos encharcados correm por entre as poças. O grupo passa pela taverna usada de posto de comando.

Guardião: “Sigam em frente e peçam para os guardas abrirem o portão para vocês. Boa noite mestres.”

Então o garoto e o guardião saem por um beco próximo. Eles estão caminhando na chuva e na lama. Parece que todos da guarnição já foram dormir. Caminham até passarem pelo centro da cidade. Algar percebe movimentos nos becos ao redor.

Barão Algar: “Saquem as armas! Acho que teremos problemas!”

Derrepente surgindo pelas duas vielas surgem três homens na frente e três atrás. Eles estão armados como infantes com machados pequenos e protegidos por escudos. Um deles tem uma corda na cintura. O mais velho, desdentado, parece o sargento. Estão com capuzes e roupas amarelas com o brasão de búfalo no peito.

Sargento: “Parados! Onde vão com tanta pressa?”

Sir Enrick: “Deixem-nos passar!

Sargento: “Rapazes hoje vamos ter uma festinha! E com uma garota! Por bem ou por mal. O que me dizem? Depois falamos que tentaram resgatar o prisioneiro sem a permissão do Comandante e tivemos que matá-los quando reagiram.”

Barão Algar: “Deixem-me pensar... Nunca desgraçado!”

Sargento: “Matem-os e dêem para os cachorros comerem. Deixem a garota viva. Pelo menos enquanto nos for útil. Não é rapazes. Ahahahah!”

Eles escutam os homens, que não quiseram tomar parte disso, fecharem as janelas e portas das casas próximas. Os homens de trás primeiro atacam. O primeiro golpeia tenta acertar Marion que está no flanco esquerdo. A arqueira desvia. O segundo soldado de Oxford, à sua frente, a ataca com um golpe certeiro na armadura de couro. Ela sente o impacto mais a pancada causa só um pequeno hematoma. Sir Enrick, no centro da luta, combate com um martelo em cada mão. Ele olha de canto de olho e com a mão esquerda golpeia o rosto do inimigo, que ataca Marion, que cai desfigurado com a pancada. Depois com a mão direita risca em arco, na horizontal o outro martelo abrindo um corte no pescoço do homem à sua frente com a ponta afiada adaptada à arma. Algar, no flanco direito, mesmo com dores em uma das pernas não recuperada das torturas sofridas no ano passado, gira o seu machado defendendo a retaguarda e a arma se choca contra a do seu adversário, o sargento de Oxford. O inimigo leva a pior e sua espada voa enterrando-se na lama, aos pés do Demônio do Norte que sorri quando percebe a vantagem no combate.

Marion trava uma luta difícil com o seu inimigo. Ela golpeia em cima com sua adaga. O homem pula. Depois ele ataca a arqueira e é ela com extrema agilidade desvia de seus golpes sucessivamente. O soldado tenta mais uma investida. Então ela empurra com os pés no estômago de seu inimigo que se desequilibra andando para trás. Em um piscar de olhos a arqueira saca uma flecha e seu arco do chão e dispara no pescoço do homem que se ajoelha vertendo sangue e se afogando até que cai morto na lama.

Sir Enrick vai ser atacado mais uma vez com uma investida pelas costas. Sem olhar o Flecha Ligeira escuta o som do homem dando um passo na terra molhada. Ele golpeia, sem virar, no exato momento quebrando o rosto do inimigo que cai sentado segurando a face afundada com um dos olhos vazando. Sir Enrick leva um golpe no peitoral da sua armadura reforçada negra do homem à sua frente e a proteção absorve todo o impacto. Juntando os dois martelos com as duas mãos, o Flecha Ligeira gira. O corpo do inimigo rodopia duas vezes antes de cair aos pés do arqueiro. Então de cima para baixo com um golpe de misericórdia a cabeça do soldado explode com uma martelada e se racha como uma melancia espalhando miolos e fragmentos de ossos e metal do elmo pelo chão.

Algar então deixa o sargento desarmado correr. Enquanto o homem foge e desaparece na escuridão de um beco. O último adversário de pé à frente de Algar tenta golpear e recuar. Mas o Demônio do Norte o ataca com a bossa do escudo o desequilibrando. Com um golpe da lâmina dupla de seu machado o homem é degolado na altura da jugular. Ele cai e leva um tempo até morrer se esvaindo em sangue no chão de lama debaixo da chuva.

Então tudo fica em silêncio novamente. Ninguém aparece. Um cachorro uiva em uma outra viela. Parece que ninguém quer se meter na confusão. Seguindo em frente a rua serpenteia até que depois de uns quatro quarteirões eles vêem a paliçada e chegam ao portão. Um dos arqueiros desce e abre a porta. Já está amanhecendo e os heróis se aproximam do acampamento quando todos estão acordando. Na chegada eles dirigem-se a tenda do Conde e contam tudo o que aconteceu.

Conde Roderick: “Temos que partir imediatamente!”

Então Sir Amig, sabendo dos últimos acontecimentos se aproxima, no meio da chuva, da paliçada e grita em direção à Nova Oxford.

Sir Amig: “Isso não vai ficar assim ouviram seus merdas! Embora estejam fazendo um bom trabalho ainda vamos conversar. Hoje não posso me dar ao luxo de perder algumas boas almas. Mas me permitirei em breve mandar outras direto para o inferno. Ninguém insulta minha Princesinha e os cavaleiros de Sarum desse jeito. Guardem as palavras e contem para o seu Comandante seus filhos de uma cadela!”

Os arqueiros ficam silencioso observando o Cavaleiro Veterano lá de cima.

Sargento Tegfryn: “Barão! Com a demora foi difícil segurar os soldados! Eles estavam prontos para atacar a cidade. Sir Amig prometeu ouro, glória e um combate épico.”
Sir Amig: “Claro, você acha que eu ia deixar a minha Princesinha para os corvos, Alemão?”

Sargento Tegfryn: “É Dinamarquês senhor!”

Sir Amig: “É tudo loiro de chifre na cabeça! Então é isso homens! Levantar acampamento! Vocês ouviram! Temos que salvar a família do Flecha Ligeira! Aguentem o frio, a fome e o sono. Vamos!”

Eles respondem: “Sim senhor!”

Dia 6:

A chuva dá uma trégua. Eles seguem para o norte, na estrada romana de pedra escorregadia cheia de limo, madrugada a dentro. Com lanternas alguns homens tentar guiar a força pela estrada romana em meio a escuridão e a neblina fechada. Assim eles continuam por horas andando poucos quilômetros.

Oswalt: “Senhor! As carroças pararam mais uma vez!”

Conde Roderick: “No ritmo que estamos vamos demorar muito para chegar em Kineton. As carroças estão encalhando toda hora.

Sir Amig: “Marion, Algar e Enrick, parabéns são os voluntários! São nossos batedores agora! Esse lugar deve estar infestados de saxões. Vão agora e olhos abertos! Preciso que achem a cidade tomada e observem o inimigo.”

Antes de partirem Sir Enrick, Marion e o Barão Algar vestem apenas seus corseletes de couro e capas escuras com capuzes. Então pegam a estrada romana para o norte em busca do inimigo. Na esquerda eles vêem no horizonte, por entre as colinas e a neblina agora fina, o Rio Avon e na direita a borda da floresta que acompanha a estrada real para o norte. Então amanhece e o sol volta a brilhar com o céu azul aberto acima de suas cabeças aumentando a visibilidade.

Barão Algar: “Vocês perceberam? Não existe mais destruição e morte por aqui. O inimigo deve estar próximo. Essas terras já devem estar em mãos saxônicas há algum tempo.”

Então eles escutam passos de várias pessoas na terra. Choro, depois um som de estalo e gritos na língua saxônica. Risadas de homens. E tudo fica em silêncio novamente. Somente os passos permanecem.

Barão Algar: “Rápido! Já vi isso antes! Devem ser escravos!”

Então, rapidamente os heróis desmontam e se escondem em meio a folhagens que margeiam a estrada. Eles observam passar há distância, cruzando a estrada, indo para o norte, serpenteando por uma trilha de barro, umas quinze pessoas. Eles estão amarrados em troncos finos apoiados em seus ombros e com as mãos amarradas neles. Dificultando a marcha. São homens e mulheres em idade de trabalhar. Uns trinta guerreiros saxões, com os seus elmos abertos na frente e proteção para o nariz, usando armaduras de couro e escudos redondos com o brasão de Octa, armados com lanças, machados e espadas caminham ao lado delas. Alguns deles estão com chicotes e por vezes batem nas pernas dos coitados que tropeçam e são ajudados por eles mesmos. Logo atrás foi deixado um corpo de uma mulher com o sangue brotando em um ferimento no peito, provavelmente feito por lança. Eles se distanciam aos poucos e adentram da mata em direção ao norte.

Os três heróis decidem segui-los e deixam os seus cavalos amarrados na beira da estrada mais atrás. Eles entram na floresta seguindo a trilha deixada e a estrada coberta de terra preta molhada e folhas. As raízes já arrancaram muito das pedras tornando difícil a jornada dentro da mata. Por entre as árvores eles vêem uma paliçada com uns três metros de altura. A cidade antes chamada Kineton virou um assentamento saxão. Ela fica dentro da floresta. É cercada de árvores altas por todos os lados. E a paliçada impede eles de enxergarem o que ocorre lá dentro. Marion com muita agilidade, e oculta pela escuridão, sobe em um grande carvalho de cinco metros de altura. O assentamento está iluminado pelas tochas acessas ao longo do terreno de chão de terra negra. Existe uma área de cem metros descampada que leva ao portão pesado de madeira. O resto do lugar é cercado por árvores frondosas e folhagens.

Marion vê lá dentro a vila com o grande salão no centro. Totens de Thunor. Celeiros. Currais com porcos, cabras e búfalos. Os cavalos Stanpid estão em um cercado próximo. Uma grande extensão de terras foi cultivada com cevada e trigo na direita. Então a arqueira assiste a uma cena triste. Em um alçapão no chão, em uma espécie de buraco feito na terra, os escravos são desamarrados e jogados lá para dentro. Ao mesmo tempo que uma panela cheia de tripas e restos é despejada para eles se alimentarem. Marion percebe que existem pelo menos duzentos guerreiros saxões andando pela enorme área. Existem quatro torres de vigia cada uma com dois lanceiros. E quatro sentinelas na parte da frente. Muitas mulheres e crianças caminham, antes da metade da noite, carregando panelas com a janta. Alguns homens limpam os cavalos. Outros dão de comer aos animais de criação. Uns homens concertam um telhado de palha enquanto outros dois martelam em uma bigorna uma espada. Cachorros vira latas andam por entre os bárbaros sem serem incomodados.

Finalmente Marion desce e os heróis retornam ao acampamento erguido há cinco quilômetros do assentamento inimigo. Sir Amig e Conde Roderick conversam próximos as suas tendas no início da madrugada enquanto a maioria dos soldados dormem.

Marion: “Conde! Pai! Achamos o inimigo! E eles devem estar mesmo com a família de Sir Enrick!”

Conde Roderick: “Então que assim seja. Aos primeiros raios da aurora partiremos para mais um combate!”

Sir Amig: “Em breve Flecha Ligeira terá a cabeça em uma estaca daqueles que fizeram mal a sua família. Isso é uma promessa genro. Atenção homens preparem as suas armas. A morte bate as portas de Kineton e nós seremos o seu arauto!”